O Concurso do projeto da sede da Ong Recomeçar foi lançado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ, uma excelente oportunidade para todos os estudantes trabalharem num projeto factível, de problemáticas reais. O pensamento universitário sobre arquitetura foi colocado em teste, onde soluções criativas e funcionais deveriam prevalecer sobre uma prática construtiva de mercado imobiliário, pouco preocupado com o bem estar do usuário.
PRIMEIRO LUGAR Gustavo de Andrade, Henrique Houayek
Inicialmente... Bem, inicialmente foi assim:
“Novembro de 2005” Um estudante de arquitetura da UFRJ chega em casa e liga pra um amigo: - Alô? Henrique? - E aí cara, tudo bom? - Tudo! Seguinte, topa entrar em um concurso de arquitetura? - O quê? - Concurso de arquitetura! - Sobre o quê? - Cara, é uma Ong! Você topa? - Oi, claro! Topo sim, Gustavo. - Então beleza! Amanhã a gente se fala na Fau! Abraço
Projeto Ong Recomeçar
Vista geral do projeto
Três questões eram essenciais para o equilíbrio da resolução nesse projeto: usabilidade, conforto e segurança – determinantes das necessidades do programa e seu caráter arquitetônico.
Planta Baixa
Para começar, apostamos em um grande pátio central, o maior possível, para dar usabilidade máxima ao local. A interação de todas as atividades aconteceria neste espaço (até mesmo festas de aniversário ou juninas), fazendo com que as pessoas se sentissem como parte da edificação.
Pátio Central
Nossa segunda resolução, agora pensando no conforto, foram os “poket pátios” – intitulados assim pelo nosso professor-orientador Milton Feferman.
Estes pátios seriam menores e em maior quantidade. O lugar de introspecção ideal entre as salas de atividades, em contraste com o grande espaço aberto do pátio central. Também apresentam uma função climática muito importante, pois criam uma circulação de ar entre as salas, num espaço sombreado por uma pérgula, diminuindo a incidência direta de raios solares.
Ao fundo, nas laterais, “poket pátios”
Este “poket” que chamamos de pátio jardim, abre ventilação e vista para a sala de atendimento psicológico (à esquerda), diretoria ao fundo, e salas multiuso
Outra decisão em favor do conforto foi inspirada no detalhe construtivo do Arquiteto Rino Levi – na residência Castor Delgado Perez, São Paulo, 1958/59. Na pesquisa por uma solução racional, encontramos esta camada de tijolos sobre a laje, barata e, portanto, ideal para nossas condições.
Corte transversal, esquema do detalhe para muro de cobogó, pérgula, telhado e a cobertura de circulação do pátio maior
Sabíamos da importância das fachadas, por serem a imagem da obra, e, junto da volumetria, a imagem da arquitetura. Proporção, ritmo, sombras, transparências e contrastes compõem estas fachadas, que buscaram alcançar a imagem de uma arquitetura brasileira, inspirada na obra de dois grandes arquitetos: Oswaldo Arthur Bratke e Rino Levi, mestres em projetar com simplicidade de desenho, volume e material. Como revestimentos foram utilizados alvenaria branca com embasamento em pedra e muro de cobogó vermelho com base de concreto aparente.
Fachada frontal e posterior
Fachada lateral
SEGUNDO LUGAR Carol Rezende, Fabio Memoria, Flávia Lima
Recomeçar de um ciclo
Uma porta azul e um terreno de 25x40m. Esse foi o início do projeto para a sede da ONG Recomeçar, na Ilha do Fundão. Num processo projetual inverso ao normalmente adotado, o terreno foi pensado como uma massa construída modular da qual subtraímos elementos. O resultado foi um desenho de cheios e vazios, espaço construído e pátios de caráter diferenciados, que se comunicam através de uma circulação contínua e cheia de surpresas.
Vista Aérea
Planta baixa
O acesso foi condicionado pela necessidade de individualidade e identidade da instituição ao mesmo tempo em que respeita o fato do terreno estar dentro de um complexo fechado. Um espaço de transição marcado pelo pórtico azul liga o portão à rua e à praça fechada.
Pórtico Azul - entrada pela rua
Passado o portão, uma varanda conecta a grande praça e a grande árvore ao pátio de eventos e à nova árvore: uma jabuticabeira que, como as mães, dá flores e frutos.
Vista da entrada pela praça
Essa varanda de acesso é coberta por pérgulas metálicas e assim como as outras, funciona como um espaço de transição ou mesmo extensão das salas.
Varanda de acesso
A necessidade da construção em etapas concentrou o programa vital em uma célula inicial, um embrião com diferentes possibilidades de crescimento conforme a necessidade da instituição.
O resultado final foi um projeto introspectivo, voltado para dentro, mas completamente condicionado pelos fatores externos, que definiram não só a implantação, mas também o aspecto formal de caixa. As tímidas janelas para o exterior em função da segurança foram compensadas com as grandes aberturas para os pátios.
Fachada Praça
Pátio interno
A inclinação do terreno foi aproveitada em dois momentos distintos: em patamares que dão suporte ao pátio de eventos e na horta junto ao núcleo das oficinas.
Pátio de eventos
Vista da varanda para a horta
Os materiais adotados foram o tijolo e a taipa de solo-cimento (devido ao baixo custo), já que dispensam revestimentos e manutenção. O uso da taipa clara nos pátios em contraste com o tijolo escuro do restante evidencia o processo projetual da subtração.
No telhado, a ausência de forro e a presença de “sheds” reforçam a relação com o céu que só uma construção térrea pode ter.
O entorno foi tratado como um espaço de transição, utilizando a mesma linguagem da edificação, buscando o pedestre no ponto de ônibus e transformando a praça em um agradável ambiente de estar.
Ponto de ônibus
Praça
Nota Ignez: Não disse que os trabalhos eram ótimos? Agora, o que vocês não imaginam é o meu orgulho: Gustavo e Carol trabalharam comigo durante alguns anos ( vejam a dica “É Carnaval!”); e Flávia, é, nada mais nada menos, do que a namorada do meu Fabinho!
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