O amor nos tempos cinematográficos
Acho genial a máscara-logomarca do Festival, mas também adoro esta minha de Carnaval - não é mais brilhante?
Sabem qual o dia da semana que mais gosto? Sexta-feira, sem dúvida! Pensam que seja pela proximidade do final de semana? Não – porque é o dia que os novos filmes chegam à telona. Manuseio o RIO SHOW e a PROGRAMA como se fossem relíquias. (Outras relíquias são os cartões que recebo de pessoas queridas. Guardo todos como se fossem jóias – verdadeiras!)
Agora imaginem minha ansiedade na época dos Festivais do Rio!
SEM FÔLEGO
Durante o Festival me sinto exatamente como o título do mais novo drama de Kim Ki-duk: SEM FÔLEGO com tantas opções/emoções!
Como selecionar entre 400 obras?
Leio com cuidado e atenção todos os filmes da programação, sublinhando, anotando... E como são feitas as escolhas? Em primeiro lugar checo a seção PANORAMA, porque trazem filmes “tinindo”. Seguem-se EXPECTATIVA, com geração de diretores ainda em ascensão e PREMIÈRE LATINA - a mi me gustan mucho los cucarachos. Também me fascinam os tchecos, romenos e iranianos.
Dentro dessas seções, seleciono os premiados (Berlim, Veneza, Cannes) seguindo-se os diretores imperdíveis (Neil Jordan, Stephen Frears, François Ozon, Patrice Chéreau, Hal Hartley, Ethan & Joel Coen, Claude Chabrol, Almodóvar, Woody Allen) e atores que me causam frisson (Juliette Binoche, Johnny Depp, Natalie Portman, Scarlett Johansson, John Malkovitch, Javier Bardem, Cate Blanchett, Julianne Moore, Brad Pitt, Daniel Day-Lewis e Ralph Fiennes - que me deixa ofegante).
O tema também importa. Não gosto de terror (mas adoro um suspense) e ficções científicas só sendo muito especiais, tipo “Guerra nas estrelas” – o primeiro da série. Não suporto ver crianças sofrendo (nunca vi “A escolha de Sofia” com Meryl Streep) ou famílias desabando – o desamor me incomoda tremendamente quando é familiar. Dois filmes premiados que não curti por este motivo: o cultuado “Beleza americana” de Sam Mendes (Kevin Spacey, ótimo!) e “Festa em família”, do dinamarquês Thomas Vinterberg. E não é que não goste do DOGMA – muito pelo contrário. “Dogville” do Lars Von Trier estaria “mole, mole”, na lista dos meus “de(z) mais”.
FOCO CHINA
Todos os anos, o Festival tem um FOCO especial. Em 2007 foi a CHINA. Amei! Afinal de contas não disfarço esta minha predileção oriental em diversas áreas como já havia declarado em B&P. Claro que “Lust, caution”, do versátil chinês radicado nos Estados Unidos Ang Lee (“Banquete de Casamento”, “Comer, Beber, Viver”, “Razão e Sensibilidade”, “Tempestade de gelo”, “Brokeback Mountain”) - premiado com o Leão de Ouro em Veneza - é um dos mais aguardados.
“A maldição da flor dourada” do craque da estética Zhang Yimou (“Herói”, “Adagas voadoras”, além de “Lanternas vermelhas” e “Amor e Sedução” citados em IT Nipônico) desta vez produziu a película mais cara da história chinesa. Esta obra ambiciosa trouxe-lhe de volta a musa Gong Li em histórias com contornos dramáticos “Shakespeareanos”. Apesar da grandiosidade e beleza da colorida e exuberante direção de Arte, foi seu filme que menos me arrebatou.
Obs. Querem saber um pouco mais sobre este povo milenar, mas emergente como força propulsora mundial? Então leiam PEQUIM: Tradição, Ruptura e Modernidade.
NOVOS COREANOS
Acabo de descobrir porque a “Maldição” não me emocionou tanto. Fala sobre ódio e desavenças familiares – AQUELES temas que contei que me incomodavam. Acho que gosto mesmo de filmes mais intimistas, e, principalmente, que abordam o AMOR – seja ele de que espécie for. Por essas vias venho descobrindo a Coreia do Sul. Este mix entre um país moderno com origens orientais desaguou em filmes com histórias originais e roteiros instigantes, aproximando-se do BIZARRO.
Mas são os que me encantam...
Você não conhece nenhum deles? ORIENTE-se já!
Kim Ki-duk e Park Chan-wook são os diretores sul-coreanos mais badalados do momento.
Por isso não vou perder ”Breath” (“Sem fôlego”) de Kim Ki-duk,
também diretor dos incríveis “Primavera, Verão, Outono, Inverno... ”,
...“Casa Vazia”...
...e “TIME”, atualmente em cartaz no circuitão.
Oldboy de Park Chan-wook (ou Chan-wook Park para os chineses) é inspirado nos mangás e fala sobre a vingança. Sua violência nos remete à “Laranja Mecânica” de Kubrick e “Pulp Fiction”, o melhor Tarantino. (Certamente entre aqueles que mudaram minha visão cinematográfica)
Volto a me extasiar com Park no inusitado “I’m a cyborg, but that's ok”. A atriz Lim Su-jean (Lump of Sugar) protagoniza com Rain, cantor pop coreano no seu primeiro papel “cinemascope”, um jogo cênico que contrasta o real com a fantasia em seqüências divertidas e poéticas.
Obs.No amor devemos usar a fantasia e imaginação infantis. Este é o grande SEGREDO da longevidade dos sentimentos. Certo, Maria?
Nota 1: Para quem prefere optar por filmes que não vão passar por aqui (ou pelo menos não “darão as caras” tão cedo), é melhor esquecer prêmios, diretores e atores famosos. Escolha países estranhos tipo Azerbaijão, filmes advindos dos MIDNIGHT MOVIES ou do MUNDO GAY. E, dado importantíssimo: apenas com legenda eletrônica em português. Se conseguir sem legenda então, suas chances de sucesso na empreitada são e-nor-mes. Foi o meu caso quando, em 2005, escolhi “Os invisíveis”, filme francês passado sem legenda. Selecionado para a Semana de Crítica do Festival de Cannes 2005, seu roteiro é bastante original: o personagem Bruno vive apenas para a pesquisa musical, trabalhando com sonoplastia. Apaixona-se pela voz de Lisa que ouve ao telefone, e depois de vários encontros sexuais às escuras, ela desaparece. Aí... bem, aí eu não conto o final para não perder a graça. É torcer para o filme (UM DIA!) passar no Rio.
Nota 2: Não costumo ver filmes brasileiros nestes Festivais (nem “Tropa de Elite”!), mas ultimamente tenho assistido vários na telona (descubram quais em CinEAT!) e bati palmas fervorosas para “Brasileirinho” sobre nosso tão amado chorinho (Gente, e aquela bailarinha Michele de Castro, o que é aquilo? Que INVEJA!!! Marquinhos, quero dançar gafieira igualzinha a ela!)
Nota 3: Para os não ávidos pela telona, que curtem um DVD na telinha (mesmo que não tão grandinha), recomendo olharem algumas soluções do nosso Portfolio: as estantes Moogie, Mais por menos e Help (na foto abaixo).
Não é de tirar o fôlego?
P.S.1: Assim como o genial cronista-gourmet Apícius - que ilustrava seus próprios textos - usarei a primeira letra dos amigos “ocultos” que partilharam comigo as sessões do Festival do Rio. A pergunta ... Qual foi o melhor filme para você? Para M.F, “Tropa de Elite” foi imbatível; para M.L, “I’m not there”, sem dúvida (segredo: ele é fã nº1 do Bob Dylan desde que nasceu); já Mme T, acha que “Sleuth” (Um jogo de vida e morte”) não deixou “pra ninguém” pelos ângulos inusitados das tomadas; M.N classificou “Sombras de Goya” como “filmaço” em todos os sentidos. E eu? Bem, pra variar abraço ardentemente os orientais. Durante todo o festival, “I’m a cyborg” havia sido meu eleito, seguido de perto por “Breath” (“Sem fôlego”). Mas no último minuto do segundo tempo, “Lust, caution” do premiado Ang Lee me arrebatou por completo.
No cômputo geral, tive boa intuição nas minhas escolhas e só não curti (nada, nada) o ego do David Lynch em “Império dos Sonhos”. Os outros “acertei em cheio” nos temas mais variados: além dos citados acima, “A maldição da flor dourada”, “O expresso Darjeeling”, “O búfalo da noite”, “Hairspray” e “4 meses, 3 semanas, 2 dias”.
P.S.2: Após a leitura deste texto, Maria Veiga (autora de Levei um fora, Luz dos olhos e Toda ternura) impôs as questões: Qual exatamente a diferença entre a sanidade e a loucura? O amor e a paixão estão mais próximos da fantasia ou da realidade? Vocês saberiam responder? Então, por favor, envie respostas para mariaveiga@ignezferraz.com.br |