Melancolie aux Beaux-Arts
O Grand Palais de Paris inaugurou com sucesso uma exposição intrigante – Mélancolie – onde se tenta dissecar, através dos séculos, este estado de espírito de tantos grandes criadores, como poetas e pintores.
De Dürer a Edward Hopper, passando por Goya e Van Gogh, a exposição percorre também a evolução dos tratamentos psicológicos para esta 'enfermidade', como a análise freudiana e a descoberta do prozac.
No canto da última sala, sentado, olhando fixamente para os visitantes, uma figura quase-humana chama atenção: uma escultura hiper-realista gigante (2.05 m) do artista australiano RON MUECK.
Mueck, nascido em 1958 e associado à National Gallery londrina desde 1999, trabalhou por 20 anos com cinema, na área de efeitos especiais. Ganhou experiência para que suas figuras em fibra de vidro e silicone não esqueçam um detalhe perfeccionista.
Exercita sua habilidade com seres cotidianos – mulheres com gravidez avançada ou que acabaram de dar a luz, adolescentes com seus membros ainda desproporcionais, velhos que nunca fizeram um lifting. Estuda durante meses suas crias em barro e só depois escolhe suas dimensões (sempre bem maiores ou menores que a realidade), reforçando sua intenção dramática.
Neste caso, o Big Man, como é nomeado, nos remete à imensa solidão do ser humano. Ou melhor, sua inadequação ao mundo.
A novela de Silvio de Abreu “Belíssima” é uma crítica aos parâmetros atuais: se você não for jovem, belo e bem-sucedido, você é 'do além'. O Big Man nos espreita e espelha todos estes sentimentos, que hoje não podemos nem externar – temos que estar sempre de bem com a vida, otimistas (como quer por decreto o nosso presidente) e felizes o tempo todo.
Não conseguia desviar os olhos desta figura que desestruturava a ordem daquele espaço, não consegui esquecê-lo. Entre tantas belas pinturas, o 'feio' sobressaiu por sua força e expressividade. Feios, ao contrário do que relata a escritora Claudia Tajes no seu livro sobre este tema, podem ser para sempre inesquecíveis.
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