| Paper  cutout -  Analu Prestes and Tord Boontje 
 
 No princípio era a “Alma”.
 
 
 
  
 
 Não, não, não. Corta. Rewind.
 Três de Janeiro de mil novecentos e setenta e quatro.
 
 Este é o princípio – o dia em que São Paulo perdeu a artista Analu Prestes para o Rio. (YES!)
 
 
 Sempre pensei que Analu fosse “carioca da gema” – seu sorriso, seu jeito criativo e inquieto de ser, sua maneira carinhosa e divertida de dizer... o quanto ama as pessoas, sua Arte, sua vida.
 Deve ser muito bom conviver com um ser tão pulsante de sonhos e com tanta garra para buscá-los.
 
 
 
  
 
 Porque sua exposição “Alumbramentos”, no espaço SESC Copacabana, só existiu por esta garra: um mês e meio para estudar o local, pensar um novo trabalho e executá-lo com as próprias mãos – desenhando, cortando, desenhando, cortando... deslumbrando!
 
 
 
  Quando olhei este painel, imaginei qual teria sido sua inspiração: arabescos de tapeçaria?
 
 
 Agora um fastforward para o início do texto.
 Na sua exposição anterior, no Centro Cultural Correios há nove meses (coincidência esta gestação?), “Alma” me fascinou “de cara” e era um trabalho que se diferenciava dos demais (pinceladas pretas introspectivas sobre pequenas telas brancas, e o instigante título
 “A vida secreta das cores” – só podia ser dela, não?).
 
 
 Os singelos recortes no papel alvo dialogavam com um outro trabalho projetado na parede – sua própria sombra. (Veja  o trabalho fotográfico de sombras de Sandra Schechtman, na DICA “De brumas e névoas” ). Caminhar entre os dois nos transformava em Arte viva da própria Arte de Analu e sua parceira numa obra mutante.
 
 
 
  
 
 Em “Alumbramentos” também existe o jogo de sombras (espectros da sua alma?). Uma trinca em canson antecipa o tom do porvir de cada obra – um creme delicado, como delicado é o seu suporte:
 o papel, presente desde a infância.
 Nas bonequinhas recortadas de mãos dadas (qual foi a menina que não se encantou com sua própria “mágica”?), nas caixas de papelão para cenários e figurinos iniciados na adolescência, no curso ministrado pelo teatrólogo Naum Alves de Souza.
 
 
 Nesta série de florais, as reminiscências do passado “afloram”. Por isso não se preocupa com a sua efemeridade. Efêmera é a vida, eternas são as lembranças de quem conviveu com sua obra.
 
 
 O papel de 300 mg de gramatura finalmente chegou, e com ele uma surpresa. Na incisão com o estilete, o trecho cortado “eleva-se”, dando relevo às suas idéias. As mandalas passam a exibir pétalas tridimensionais, enriquecendo-as, sempre moldadas (e acariciadas) uma a uma por esta rendeira da luz. Querem ver o resultado?
 
 
 
  
 
 A última obra desta série foi inteiramente recoberta por estas escamas e filetes de papel se esparramam sobre o piso. Ela deseja que numa próxima exposição suas criações sobre papel se insiram num pé-direito beeem alto, para que suas “caudas” possam se alongar muuuito mais.
 
 
 
  
 
 Acho que uma aposta mais plausível para o futuro seria a evolução das cores, já que apenas uma única mandala exibe um forte colorido “apaixonado”.
 
 
 
  
 
 Artista múltipla e completa, sua inquietude permeia e norteia sua produção. É o canal por onde fluem (e algumas vezes transbordam) seus sentimentos, sempre “exagerados”. E foram “bichos”, “caixas”, telas de grandes formatos (tive o privilégio de utilizar uma delas no lançamento de uma linha de móveis para a WAY Contemporânea)...
 
 
 
  Vocês acham mesmo que ela vai dar continuidade às mandalas?
 D-U-V-I-D-O!
 
 
 Aliás, já estou curiosíssima só de imaginar o que virá por aí.
 
 
 
  
 
 Notas:
 - Amiga, olha só que coincidência! Estava “deslumbrada” com a obra do designer holandês Tord Boontje, quando você me enviou aquele simpático e-mail sobre sua exposição. Ele trabalha com papel recortado a laser, numa mistura de produção industrial com trabalho artesanal
 (e que hoje denominaríamos de GLOCAL – vejam a explicação no artigo “Sul, Movelsul” ).
 Seu projeto que mais me emociona é a “Midsummer light”, onde utiliza cinco cores de lâmpadas: white, skyblue, lemon, fuchsia e fire.
 Vou reproduzi-las, porque tenho certeza que você vai AMAR!
 
 
 
  
 
 
  
 
 
  
 
 - Quem sabe o que é uma lanterna chôchin? E um shöji? Então leiam o ARTIGO  “IT Nipônico” , sobre o povo que mais utiliza o papel nos seus Interiores: os japoneses.
 
 
 - E quem já ouviu falar em construções de papel? Informem-se sobre este excepcional arquiteto (japonês, óbvio!) na DICA  “Ashes and Snow” .
 
 
 Obs.:
 - Outra “carioca da gema” é a mineira Ana Durães. Confiram seu jeito de “menina do Rio” no ARTIGO “Quase Santos, Quase Almas” .
 
 
 - Achei o título desta exposição uma “sacada” genial! Alumbramentos remetem a deslumbramentos, sombras, Alhambra (vocês conhecem este templo com influência marroquina em Granada?) e, naturalmente, ANALU!
 
 
 P.S. Depois de descobrir este artigo, Sebastian Cox, da firma chilena Gacel, pediu nossa permissão para usar a foto do painel em paper cutout da Analu para o marketing dos seus sapatos com os mesmos detalhes recortados. Vejam que poderosa!.
 
 
 E-mails recebidos:
 
 
 Querida Ignez, eu não tenho palavras para dizer a minha emoção de ver a sua leitura do meu trabalho e de como vc me vê.Sinceramente nem me reconheci!!Ficou tudo tão lindo!!!!!MUUUUUUUito Obrigada!!!!
 Está tudo registrado no coração, no álbum da vid , com fotos, sentimentos e muitos agradecimentos.
 A melhor coisa que existe quando vc realiza um trabalho é tocar as pessoas de alguma maneira e acho que Alumbramentos disse a que veio.
 Sou sua fã.
 Muitos bjs e mais uma vez, OBRIGADA.
 Analu Prestes
 
 
 P.S.Adorei o nosso encontro onde pude te conhecer um pouco mais e dar umas boas risadas.
 
 
 Queridas Analu e Ignez
 O artigo está, realmente, deslumbrante!
 Vou me programar pra ver a exposição.
 "Maravilhosa" é tudo!!!
 
 Parabéns pras duas, beijos,
 Roberto Padilla/ Artepadilla
 
 
 Ignez, que maravilha. O trabalho da Analu é DESLUMBRANTE mesmo. Infelizmente eu estava viajando e perdi.
 Beijos
 Ana Durães
 
 
 
 Olá Ignez,
 Adorei sua matéria sobre o belíssimo trabalho da Analu, em especial o "diálogo" c/ as sombras e as luminárias que vc sacou bem a identidade c/ o trabalho do Bootge. Aliás, o seu olhar sobre as identidades é ótimo pq me fez rever conceitos e superar aquela sensação chata de “déjà vu” nas artes e no design, agora busco as identidades no lugar de rotular como meras cópias (qdo realmente são cópias nem perco tempo).
 Um beijão,
 Elio Grossman
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