Autorretrato Magritte (“The magician” – 1952)
A exposição Magritte and Contemporary Art no LACMA (Los Angeles County Museum of Art), apresentou uma grande retrospectiva das obras do pintor belga René François Ghislain Magritte (1898-1967). Foi uma verdadeira viagem por este universo surrealista, pois até mesmo na decoração e montagem dos ambientes houve preocupação em reproduzir ícones da obra deste grande artista, tais como o céu de nuvens (que está em todo o carpete) ou as portas recortadas. Os seguranças do museu estavam uniformizados com chapéus coco. (Nota 1)
Magritte iniciou suas atividades artísticas em 1916, quando ingressou na Académie Royale des Beaux-Arts, em Bruxelas. Dez anos depois, influenciado pelo italiano Giorgio de Chirico, fundou com Paul Devaux o Surrealismo Belga – título por ele questionado inúmeras vezes. Em seus trabalhos deste período inicial inseria objetos comuns num contexto de palavras e frases contraditórias para provocar inquietação – “Ceci nést pas une pipe” marcou história. (Nota 2).
O Surrealismo foi um movimento fundado em Paris em 1924, pelo escritor André Breton, idealizado com bases nas teorias da percepção de Freud, da psicanálise e no conceito de resolver as contradições entre o sonho e a realidade. Seu intuito era provocar as pessoas a enxergar a falsa racionalidade que existe nos costumes sociais. Em 1927 Magritte muda-se para Paris, tornando-se grande amigo de Breton (posteriormente rejeitado), além do poeta Paul Éluard e do pintor Marcel Duchamp (of course, apesar do rompimento com o Dadaísmo).
René Magritte, Marcel Duchamp, Marx Ernst e o fotógrafo Man Ray
Apesar da língua ferina em inúmeras declarações, reconhece suas admirações em cartas aos seus correspondentes: “I have a strong weakness for the so-called Cubist and Futurist schools.Without Impressionism, I do not believe we would know this feeling of real objects perceived through colors and nuances, and free of all classic reminiscences.”
“La baigneuse” (1923) e “La moisson” (1944)
A nova exposição aborda sua influência junto a vários pintores contemporâneos do pós-guerra, além de artistas conceituais e de arte Pop, bem como a geração de pintores ligada à propaganda e marketing (tendo Andy Warhol entre seus expoentes), que Magritte tanto criticava.
“Personal values” (1952) de Magritte e “Comb” (1970) de Vija Celmins
“Titanic days” de Magritte (1928) e “Untitled” de Robert Gober (1990) - escultura em cera, com pigmentos e cabelo humano. (Nota 3)
“My painting is visible images which conceal nothing; they evoke mystery and, indeed, when one sees one of my pictures, one asks oneself this simple question 'What does that mean'? It does not mean anything, because mystery means nothing either, it is unknowable."
Vale se deixar levar a este fantástico mundo cheio de surpresas e magia!
Notas Ignez:
1 – Magritte possuía vários outros objetos simbólicos que se transformaram em obstinação nas suas obras: pássaros, janelas, silhuetas humanas, roupas, corpos de mulheres, maças verdes. Muitas vezes utiliza-os de forma tão agigantada, que ocupam todo o cômodo retratado.
“Le tombeau des lutteurs”. Sabem quais são os outros artistas que também se enibriam com as rosas? Elio Grossman e Pietrina Checcacci.
Em outras ocasiões flutuam no espaço...
“Le château des Pyrénées”. E quem curte rochas? Descubram lendo Felizardo Folberg.
2 - A inquietação, que permeou como um desafio de indagação (indignação?) toda sua obra, foi revista inclusive na Moda. Ou vocês não acham que este vestido de 1984 de Jean-Charles de Castelbajac “Je suis toute nue en dessous” tem “tudo a ver”?
3 - Esta pintura de Magritte também serviu como fonte de inspiração para Yves St. Laurent na sua coleção “Pop Art”, lançada em 1966, depois de já ter homenageado Mondrian um ano antes – veja foto em Rietveld, Mondrian e Saint Laurent.
Saint Laurent, amigo de vários artistas, foi o estilista que mais lançou coleções conjugando Arte & Moda: Velazquez e Delacroix (1977); Picasso (1979); Matisse (1980); David Hockney (1987); Bracque, Van Gogh (1988). Mas Pierre Cardin, com sua exótica coleção de sapatos em 86, também homenageou este artista surrealista, assim como Christine B. em 93, inspirada em “La philosophie de boudoir” de 1948.
Magritte – Le modèle rouge (1935); Cardin, sapatos masculinos (1986). Quem se habilita?
P.S. Para quem não costuma ir à Los Angeles com a freqüência da Bia (afinal, nem todos têm sua oldest daughter estudando lá), sugiro outra ótima exposição: “Impressões digitais” no CCBB.
Trata-se de uma visão global de todos os tipos de gravuras, inclusive acompanhadas por um excelente glossário no final – xilogravura, gravura em metal (água-forte, água tinta, buril, ponta-seca), litografia, serigrafia, etc (antecipe-se em Rizza Conde para se familiarizar com alguns termos).
Imperdíveis? Os espanhóis Picasso e Goya (este pintor tenebrista atormentado pela Guerra Civil espanhola – leia Espanha - se transforma em crítico bem-humorado na série “Os provérbios”); o francês Daumier, pintor “sério”, mas engraçadíssimo com suas sátiras políticas, que lhe renderam a falência, além de um belo cárcere; e os alemães: o imbatível Dürer (quem não conhece o Museu “Albertina” de Viena, que, por si só já vale a viagem?), além dos 3 Ks expressionistas – Kandinsky, Kolwitz e Kokoschka (que disputava, com Klimt, o amor de Alma Mahler no início do século). Rembrandt, o holandês mais famoso do efeito chiaroscuro, foi o primeiro a utilizar a mistura de várias técnicas para manter o mesmo contraste de suas pinturas.
Ah, importante: a serigrafia de Jackie Onassis imortalizada por Andy Warhol é a única que é apresentada nas duas exposições.
Concepções similares de “duplas” na mesma época: Magritte – Decalcomania (1966), uma das suas pinturas mais famosas onde aparecem vários dos seus ícones, inclusive o chapéu coco, mencionado no início do artigo; Andy Warhol – Jackie II (1965).
E os brasileiros? Super bem representados por Livio Abramo, Fayga Ostrower, Thereza Miranda (a única a usar fotografia – Oi, The!), Marcelo Grassman e nosso Goeldi (tenho uma xilo colorida – raridade! Vocês podem ver uma similar em ANOS JK)
Beatriz Novaes é arquiteta e nossa consultora de moda – leiam seus ARTIGOS Beatlemodamania, Tendências verão 2007 e Tendências inverno 2007. Escreveu também a DICA sobre a exposição Ashes and Snow que visitou em Los Angeles e um ARTIGO sobre os Lençóis maranhenses. Juntas, idealizamos os quatro diálogos moda-design da Sala Mutante – Morar mais 2004, além do Closet Masculino da Casa Cor 96.
E-mail recebido:
IGNEZ,
Magnífica a materia da Beatriz sobre Magritte. É de 1a categoria. Sem grandes discursos nos coloca no universo do artista. As fotos, nossa(!),são de uma excelente qualidade. Realmente incríveis. Seu P.S. bem oportuno.
Realmente admiro que uma pessoa ocupada como você, possa dedicar tanto tempo para somente publicar matérias de qualidade no seu site. IBEN |