From Louis XV till nowadays - redesign & relooké
Fui entrevistada pelo Jornal da Tribuna de Santos a respeito de um tema bastante pertinente hoje: a tendência ao retorno dos Vintages e Retrôs. Reproduzo aqui a entrevista com exemplos ilustrados. Esgueirem-se entre terminologias de REs: redesign, relooké, revival, reedição, restauração...
Redesign atualizado de sofá Louis XV: simplificação de linhas, estrutura prata e estofado em "abusado" vinil vermelho.
Poltrona Cabriolet e Sofá Louis XV. Relookés através de acabamentos modernos: pátinas e couro metalizados, tecido PVC com impressões de fotos. Atelier Philippe Coudray
O que é Vintage? VINTAGE é um clássico original, de importância ou qualidade reconhecida. Não confundir com RETRÔ, que é um design que se inspira no passado, podendo inclusive ter influências de várias décadas num mesmo produto.
VINTAGE Louis XVI - Chaise à la Reine, 1780. RETRÔ Jurgen Bey - Cadeiras revisitadas com novas tecnologias: estrutura em fibra de vidro e poliéster, tecido serigrafado.
Por que você acha que as peças retrôs estão conquistando novamente os clientes? O Retrô é tendência em diversas áreas, da moda ao design (produto e gráfico) ou até mesmo embalagens. Pesquisas comprovam que peças que nos remetam lembranças do passado são sempre bem-vindas, pois se traduzem como solidez familiar na nossa memória afetiva.
A forma curva desta “writing table” (kidney) é similar aos modelos utilizados na França (haricot). Executada por Chippendale em 1765, no reinado de George III, sua forma permite uma adaptação em qualquer espaço - inclusive paredes angulares – podendo ainda dividir dois ambientes. O formato de “rim” também é encontrado no moderno aparador-bar Zinha, apoiado em apenas três pernas. Nas duas bases giratórias com portas circulares são guardados bebidas e copos.
Estas peças aliam bom gosto e conforto? Sim, porque tanto quando se trata de uma reedição de um vintage ou o revival de um retrô, as peças se baseiam em medidas e estéticas já testadas e aprovadas.
Jean-Loup Moissonier é o craque das reedições de cômodas Louis XV. Já as cores da pátina brincam com a gaiatice.
Assim como a moda, podemos afirmar que a decoração é cíclica? Sim, mas assim como na moda, ela nunca é igual – mudam os acabamentos (tecidos, cores e texturas), as proporções ou até mesmo a conjugação com outros itens.
O “Canapé à trois chevets” foi restaurado como peça vintage de 1785 (Louis XVI). Já Jean-Daniel Savoye costuma revitalizar os originais com nova roupagem: tom violáceo e tecido “bucolique”.
Por que as peças vintage custam mais caro que peças de móveis atuais? Porque são originais e escassas. Quanto mais raras, mais caras. Já seu redesign ou releitura pode ser bem mais em conta, pois certamente será fabricado em série.
Com a poltrona Louis Ghost (2002) Philippe Starck deu novo impulso às possibilidades do uso do plástico para móveis inspirados em vintages, como esta “Fauteuil en cabriolet” Louis XVI de 1780. Irônico, seu autor declarou que isto seria o verdadeiro anti-design, já que é invisível. Obs. O anti-design foi um movimento que surgiu na década de 70, como contraponto do modernismo. Liderado pelo grupo Alchimia, mais tarde substituído pelo Memphis, cujo expoente foi Ettore Sottsass.
Em qual cômodo da casa o estilo pode ser utilizado? Em qualquer local, com exceção dos quartos de crianças e jovens porque NUNCA se ligarão numa História que ainda não existe para eles. As peças antigas colocadas nos quartos dos filhos são SEMPRE escolhas dos pais. Portanto, atenção!
Esta Poudreuse Louis XV de 1750 é prática e decorativa; com a tampa levantada, revela compartimentos para guardar maquiagem e acessórios. Entretanto, no quarto de uma menina, deverá ser substituída por um toucador menos elaborado mas com a mesma funcionalidade. O acabamento em laca branca e as divisões e fundo de vidro oferecem leveza e modernidade ao espaço infantil. (Descubram o restante do quarto)
Uma peça vintage pode transformar um ambiente, dando mais estilo e beleza? Depende, é muito pessoal. Quanto maior tiver sido a convivência da pessoa com algum estilo, mais desejará tê-lo por perto – e o resultado será muito rico, precioso mesmo. “Sem erro” é a composição apenas com complementos ornamentais vintage. Os móveis “de família” são a melhor referência e conforto certo.
Tapete Bukhara e coleção de pequenos vasos Schneider; ao fundo, cômoda “herança de família” sob arandelas de vidro Lalique incrustadas no espelho de linhas simples e modernas como o restante do ambiente.
Posso misturar em um mesmo cômodo, peças de diferentes estilos? Sim, desde que elas dialoguem de forma tranqüila, com dimensões proporcionais aos cômodos. Mas não se deve forçar por “modismo”. O morador deve se identificar com o gênero e sentir-se bem no seu ambiente/casulo - afinal de contas não é o arquiteto que vai morar lá.
Detalhes florais nos entalhes e vidros das portas do armário Nouveau; penteadeira Déco; cama e mesas desenhadas com linhas suaves formam o elo de ligação entre os estilos. (Apreciem outras fotos deste quarto)
Qual a melhor solução: o contraste ou a harmonia de estilos? Depende da preferência (e ousadia) do morador e intenção do arquiteto – as duas soluções podem proporcionar ótimos resultados. Evite, porém, utilizar apenas peças clássicas – isto faz parte do passado.
Este palácio do séc. XVIII em Paris foi decorado pela designer francesa Andrée Putman para o Ministério da Cultura. A tonalidade marfim das paredes serviu como base fosca e neutra para todo o ambiente. A pureza de linhas do mobiliário, tapete e cortina equilibra o lustre e ornamentos rococós.
Este exemplo é o oposto do que parece: a moderna cadeira Tulipa do Saarinen é que é a reedição vintage (1957). A sala foi decorada propositalmente clássica com sancas para contrastar, porém a escolha do verde pistache subverte o conjunto para um visual bem contemporâneo.
Assustados e confusos com tanta informação? Então relaxem neste conjunto bem comportado, tomem um cappuccino com calma e leiam tudo novamente since the beginning...
A pequena cadeira é uma peça vintage enquanto a mesinha do café se harmoniza com desenho (dois tons de mármore – branco e botticino) inspirado neste período. |