Retro style in construction – revisiting the 70’s and 80’s
Fui entrevistada por Juliana Duarte, jornalista da revista “Construir” (CasaDois Editora) sobre a tendência de se utilizar elementos ‘retrô’ das décadas de 70 e 80 nas construções. Ela me encontrou na Internet, através do artigo Vintage & Retrô. Eis as minhas respostas:
.Quais os materiais mais solicitados (revestimentos, materiais em geral, exceto móveis) que estavam na moda nos anos 70 e 80 e voltaram com força total? Tijolos aparentes, tijolos de vidro, vidros ‘fantasia’, granilites e outros pisos monolíticos, madeiras, pastilhas.
Hoje existem diversos modelos de tijolos de vidro que apresentam uma (ou ambas) face(s) jateada(s)
.Por que eles voltaram? O Retrô é tendência em diversas áreas, da moda ao design (produto e gráfico) ou até mesmo embalagens. Pesquisas comprovam que peças que nos remetam lembranças do passado são sempre bem-vindas, pois se traduzem como solidez familiar na nossa memória afetiva.
.Qual a diferença que os materiais chamados “vintage” podem fazer em uma casa? VINTAGE é um clássico original, de importância ou qualidade reconhecida. Não confundir com RETRÔ, que é um design que se inspira no passado.
Ambos ‘aquecem’ a moradia, pois conjugam o presente com o passado, e, afinal, todos nós gostamos das ‘boas lembranças’. Nunca achei de bom tom o proprietário que compra uma residência com belas esquadrias de pinho-de-riga ou pisos em peroba-do-campo trocar tudo por algum modismo de época (por exemplo, esquadrias de alumínio ou pisos laminados). Devemos conservar estes bons detalhes residenciais, até como re(de)ferência à história daquela arquitetura. Manter o pé-direito alto, os ladrilhos hidráulicos (mixados aos novos lisos são uma ótima opção) e outros resquícios originais, hoje é considerado solução ‘adequada’, quando na verdade sempre deveria ter sido.
Nesta cozinha, uma das paredes foi descascada e manteve-se a alvenaria estrutural aparente. Contraste com materiais tecnológicos.
.Em uma cozinha, por exemplo, qual é o material retrô mais indicado? E para a ala íntima? E para a área de lazer? E para os banheiros? -Para as cozinhas, peças de granito de diferentes formatos (em tonalidades escuras) incrustadas em placas maiores podem formar um desenho original. Outra interessante solução é o uso de filetes de mármore - compre o 'refugo' mais barato, corte e misture, pois as badaladas "canjiquinhas" são muito caras.
-Esta também é uma boa solução para os pisos dos banheiros ou paredes do box. Pastilhas (desde o vidrotil até 5x5cm) e a mistura delas ou ainda retangulares estreitas com aspecto vintage são um charme, principalmente quando utilizadas deslocadas, com ar de ‘boteco’. Tudo isso comungado com louças e metais requintados e cada vez mais inovadores, com designers do porte de Philippe Stark criando duchas, metais monocomandos e inúmeros acessórios, com todas as possibilidades tecnológicas disponíveis hoje nas grandes indústrias.
- Os revestimentos brancos ou off-white como pedras S.Tomé tipo quartzito ou marmorites lavados (formando placas de 1.00 x 1.00 quando executadas in loco) são ótimas opções para as áreas de lazer. Resinas também devem ser aplicadas sobre eles, com exceção das áreas molhadas, como piscinas externas.
-Quanto aos pisos de madeira propícios à ala íntima, os pisos de demolição beeem antigos estão mais em alta do que os de algumas décadas passadas (antes encontrados apenas em lojas de demolição/antiquário, hoje são vendidos em vários locais, com promessas de 'verdadeiras mineirices'). Existem hoje as lâminas de sobrepor que imitam até ranhuras e defeitos dos pisos antigos. Destes incluiria apenas os que apresentam um perfil ecológico: compostos basicamente de madeira e cola naturais; componentes manufaturados sem adição de pesticidas, cloro ou metais, podendo ser reciclados; superfície ‘fechada’ que impede a proliferação de microorganismos e facilita a limpeza, evitando problemas alérgicos.
Já o piso de madeira da década de 70, eram tábuas de ipê ou maçaranduba, 20 cm de largura, que substituíram as finas réguas de pau-marfim da década de 60 (vejam exemplos de Tenreiro). Retornam à moda em 80 para serem novamente substituídas pelas escuras em 90 - a lei do eterno retorno!
.Você indica esse tipo de material? Você os recomendaria para os seus clientes? Sim. Acho que devemos estar sempre abertos a constantes mudanças culturais, aos sinais advindos das mais diversas áreas e aceitar as diferenças e misturas, reler o passado, combinar materiais e texturas, recriando um estilo com uma linguagem contemporânea.
.Há projetos seus com esse tipo de material? Claro, principalmente da déc. de 70, quando fiz minha formação. Procuro utilizar materiais naturais e resistentes, de grande durabilidade e fácil conservação - como o oxicret pré-moldado, o calcário de lundi - com destaque para tijolos artesanais empregados na fachada e em diversas áreas comuns, seguindo paginações variadas.
Fachada edifício com tijolos aparentes naturais, concreto e esquadrias de madeira.
Nas esquadrias dou preferência às madeiras, pois seu consumo de energia chega a ser 5 mil vezes menor do que as de alumínio e, de quebra, melhora o conforto térmico da construção. Entretanto, é preciso um tratamento adequado para impedir a degradação da esquadria. Infelizmente ainda não se fabricou um verniz (naval, poliuretano) ‘eterno’ e as esquadrias externas terão que se submeter a novas demãos a cada três anos em média. Para a eternidade, recomendo as esquadrias de PVC brancas, também ecologicamente corretas. Tenho especificado bastante nos projetos de edificações.
.Qual é sua opinião sobre os ladrilhos hidráulicos? E sobre o granilite? Eles são retrô? Em cidades com o clima do Rio todos os ambientes podem utilizar o piso frio – do hall aos quartos – e nos apartamentos pequenos ou flats, a mesma especificação em toda a área é bem vinda. Tanto o granilite quanto os ladrilhos hidráulicos estão sendo redescobertos não só por serem retrô, mas por serem mais baratos.
- O granilite, também conhecido como granitina ou granilha, é confeccionado com cimento e agregados minerais (moagem seletiva por cores e granulometria) como o calcário, quartzo e mármore (marmorite, o mais famoso). Antes utilizado apenas em áreas ‘de serviço’ como escadas, halls e até fachadas de prédios de baixa renda, hoje ganhou status pela suas qualidades, como alta resistência, aspecto visual agradável e principalmente, baixo custo. Assim como os pisos cimentados estão ‘em alta’, a reversão de materiais ‘industriais’ para ‘residenciais’ são soluções criativas e bastante modernas. Brinca um pouco com o lúdico e kitsch, tendências também atuais.
- Ladrilhos hidráulicos estampados (em toda a superfície, apenas salpicados no meio de pisos cimentados coloridos ou como ‘tabeira’ entre outros ladrilhos lisos) podem ficar bastante simpáticos em lavabos, varandas, pequenas cozinhas ou jardins de inverno. Os lisos podem compor até mesmo com pedras do rio em áreas externas.
Ladrilhos cerâmicos misturados a pedras de rio. Pés da mesa em ferro.
.O ferro é um material retrô? Se você considerar que ele foi substituído pelo alumínio ou aço, sim. Mas ele sempre teve sua função diferenciada por ter mais resistência que o alumínio e ser mais econômico que o aço, além de poder ser executado com contorções. Portanto, acho que sempre teve seu lugar ao sol - a não ser em regiões praianas, pois tenderia a enferrujar rapidamente.
.Quais tipos de vidro podem ser considerados retrô? Os vidros ‘fantasia’ (anteriormente existente em poucos padrões como ‘pontilhado’ e ‘canelado’), hoje com relevos ou motivos serigrafados cada vez mais bonitos.
.Os mármores são retrô? O material vem sendo usado com frequência? O mármore sempre foi usado desde os tempos mais remotos. Antes da década de 70 se utilizavam os importados, como o mármore de carrara para os pisos das salas. A partir desta data, com a especulação imobiliária e a necessidade de construir mais e não melhor, reduzem-se as áreas dos compartimentos, e o custo passa a ser prioritário. Os mármores deslocam-se dos pisos e passam a compor apenas as bancadas dos banheiros, com material nacional – “branco paraná” (também utilizado nas cozinhas) e “bege-bahia” (nas cozinhas, o granito “ouro velho” e “ouro novo”). Na década de 80 o raro “aurora pérola” se (re)introduz nos apartamentos das classes A como diferencial (vejam o uso neste banheiro), assim como alguns granitos – negro ou “branco ceará”, para substituir os ‘batidos’ “ju paraná” e “cinza andorinha”. Já na década de 90, com a abertura para importação, surgem mármores claros, como o “crema marfil” e o “botticino” (reparem a utilização neste quarto), que fazem sucesso.
Ainda no final da década aparecem os compostos (limestone, silestone), mais resistentes, lindos na sua textura quase sem veios. Só não tiveram maior alcance pelo preço – mais caros que seus antecessores. Neste século, existe um clamor pelos produtos naturais e as pedras voltaram à tona, com todos os seus veios, inclusive algumas que jamais haviam estado em evidência.
.Eles ganharam elementos modernos? Sim, pois assim como na moda, o retorno nunca é igual – mudam os acabamentos (hoje existem muito mais opções de cores e texturas), as proporções (quanto maiores suas dimensões, mais contemporâneo, podendo chegar a 1.20 x 1.80 m) ou até mesmo a conjugação com outros itens (contrastes inusitados como sofisticado x rústico, pesado x leve ou clássico x moderno estão na ordem do dia).
.E quanto aos assuntos do momento – ecologia e sustentabilidade – como estes materiais se inseririam? Devemos preferir materiais à base de terra. Eles permitem melhor “respiração” das paredes, muito superior àquelas feitas com blocos de concreto. O ideal é usar tijolos de solo-cimento que, dependendo do modelo, podem até dispensar a argamassa no assentamento. Este tijolo não precisa usar fogo para ser produzido, e já vem com orifícios para passagem da fiação elétrica e da rede hidráulica.
Tijolos de solo-cimento e forro e piso em pvc padrão madeira
.E o custo disso? O custo das opções adotadas no projeto e na construção pode variar muito - depende do conhecimento e da disposição de quem está projetando e construindo. Neste contexto, o trabalho do arquiteto é importante, pois ajuda a reunir informações que podem estar pulverizadas entre várias especialidades, mas necessitam trabalhar em conjunto, devendo ser previstas antes do início da obra. Os defensores da releitura arquitetônica garantem que é possível aderir ao movimento sem gastar fortunas na busca de materiais ditos "retrô". |