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Clássicos AFTER Vik Muniz
Por Ignez Ferraz
“The mystery of the world is the visible, not the invisible” OSCAR WILDE



VIK MUNIZ – Narciso after Caravaggio
Já era fã há vários anos do trabalho de Vik Muniz (desde suas séries de chocolate de 1997), quando tive a oportunidade de ver ‘ao vivo e a cores’ seu “Narciso after Caravaggio” no MoMa, em dezembro de 2007



Vik consegue iludir nosso olhar como se a imagem de Narciso estivesse perfeitamente espelhada, quando, na verdade, na linha d’água apenas algumas peças o sejam. No restante da obra, assimetria. Esta série composta com sucata urbana é realizada numa escala muito superior à foto, onde são utilizadas correções na imagem.


As obras-primas da Renascença com suas complexas perspectivas tiveram um impacto determinante em Vik. As referências do artista estão sempre ligadas à história da arte através de metáforas e citações. "Minha preocupação é entender como as pessoas reconhecem essas obras, como elas as experimentam.”



CARAVAGGIO – Narcissus
Na Mitologia Grega, Narciso ou O Auto-Admirador era um herói famoso por sua beleza. Ele pensava ser semelhante a um deus, comparável à Dionísio e Apolo. Das várias versões do seu mito, a de Ovídeo sobreviveu: encantado pela sua própria beleza, Narciso deitou-se no banco do rio e definhou, mirando-se na água. Quando as ninfas foram buscar o corpo, encontraram apenas uma flor no seu lugar - o narciso. Vik comenta que, se naquela época existisse a fotografia, talvez a tragédia tivesse sido evitada.



Caravaggio foi o inventor do chiaroscuro (leiam sobre a técnica em FILM & ART) e, a meu ver, o melhor pintor da Renascença Italiana.





CARAVAGGIO – Medusa
Outra ‘apropriação’ (leiam explicação sobre o termo em “Espanha: roteiro de analogias”) de Caravaggio por Vik e ainda com referência à Mitologia Grega é Medusa, uma das três divindades Górgonas. Porém, ao contrário das suas irmãs, era mortal. Sua extrema beleza aborrecia à deusa Afrodite, que, para castigá-la, a transformou em monstro com serpentes em vez dos seus belos cabelos. Seu olhar petrificava quem a olhasse diretamente. Perseu foi encarregado de decepá-la, mas Medusa, mesmo depois de morta, ainda seria capaz de petrificar quem a fitasse nos olhos, tal era a dimensão do seu poder.






VIK MUNIZ – Medusa Marinara (after Caravaggio)
Bem humorado, Vik transforma a tragédia grega numa obra lúdica (leiam “Design lúdico” e curtam como neste ramo também podemos brincar), brincando sobre o próprio prato de comida.



As imagens e o que há por trás delas sempre o atraíram. Filho único de classe média da Zona Norte de São Paulo, Vik desenhava para passar o tempo solitário. Um dia ganhou uma enciclopédia do pai e resolveu reproduzir as impressões dos livros. Aos 22 anos partiu para os Estados Unidos. Para ele, a FOTOGRAFIA acabou sendo o suporte ideal para as experiências em que combina escultura, pintura e desenho.


A fotografia simboliza objetos reais, restaurados na memória. Ela não apresenta o desgaste do tempo como esculturas ou templos gregos que Vik visitou. Para ele, a foto não inclui sentimentos ou história – são apenas formas e texturas, perfeitas nos seus detalhes.


"Sorriam!, nos ordenou o fotógrafo, e obedecemos prontamente. Com quatro anos eu não questionava porque deveria sorrir sem estar feliz. Aparentemente, meus pais também não. Sorrir para a câmera parece estar imbuído de um código genético, pois até os cegos o fazem.”



VIK MUNIZ – Mona Lisa after Leonardo da Vinci
Ainda na fase de manipulação de alimentos como geléias e pastas de amendoim, eu me pergunto: como o artista conseguiu retratar o mais famoso e enigmático sorriso da história das Artes com apenas pouquíssimas pinceladas doces?




DA VINCI – Mona Lisa
Esta obra é uma das que mais sofreram interferências de outros artistas ao longo dos anos. (Nota)



“Pela sua proteção reflexiva é virtualmente impossível fotografar a Mona Lisa sem fotografar-se a si mesmo. Uma impossibilidade que também pode ser percebida como a forma mais curiosa de auto–retrato”, explana Vik.


A dobradinha obras clássicas & molhos iniciou-se com o uso do chocolate syrup... "Usei chocolate por muitos motivos", conta. "Ele sempre esteve ligado à idéia de sexo ou luxúria. Freud poderia explicar muitos desses desejos inconscientes, por isso minha primeira imagem da série é dele", diz. "Além disso, nunca conheci ninguém que não gostasse de chocolate." Mas o mais impressionante desta técnica é que o quadro tem que ficar pronto e fotografado em menos de uma hora, para que o material não endureça e perca o brilho. Para isso ele desenha numa escala bem menor e amplia fotograficamente.



VIK MUNIZ – O naufrágio do Medusa after Gericault



GERICAULT - The Raft of the Medusa
Antes conhecida por “Scene of a Shipwreck”, “The Raft of the Medusa” foi uma sensação no Salão de Paris de 1819, e sobreviveu como uma das jóias do Louvre. Muitos não acreditavam ter sido baseada em fatos reais, mas em 1890, uma expedição arqueológica francesa descobriu no local do naufrágio artefatos suficientes que comprovaram o afundamento do navio.



P.S. Vik Muniz é o nono artista a participar do evento “Artist's Choice”, uma série de exposições nas quais os artistas são curadores, selecionando obras dentro do vasto acervo do MoMA. Sua expô terminou em 23 de fevereiro de 2009.


Nota: Usar esta importante obra para mediar culturas não é novidade. Sua (re)interpretação mais famosa é a de Duchamp, que lhe acrescentou bigode e cavanhaque.(Leia mais sobre este artista e sua ligação com o surrealismo em “Magritte”)


 
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