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Personalidade - Moda e Interiores
Por Ignez Ferraz
Personality - Fashion and Interior Design


No início do séc. XX, Charlie Rennie Mackintosh (fundador da “Glasgow School of Art”) e Josef Hoffmann (“Secession” vienense) projetavam seus ambientes visando uma total integração – da pintura aos desenhos de mobiliário, esquadrias e vitrais, tecidos e papéis de parede, luminárias e utensílios domésticos. (Leia “Na mídia” a matéria “Integração das Artes”)




Banheiro “Master”, colar e broche – tudo by Hoffmann.


O leque de interligações ampliou-se nas últimas décadas e a moda vem impondo de forma progressiva sua importância nesta cadeia.


A jornalista Iesa Rodrigues nos ensina que “estilistas e designers trabalham seguindo os mesmos conceitos, em linguagens diferentes. As pesquisas de materiais e as exigências do consumo levam a um encontro de idéias e mesmo de estilos, traduzidos em peças de vestuário e ambientações a cada tendência detectada”.
(Leia também a matéria publicada sobre o tema “Qual o seu estilo?”, referente à “Sala Mutante” na Mostra “Morar Mais por Menos”)


Falar em tendências num mundo tão diversificado é quase uma contradição. Pela rapidez de informações estamos abertos a constantes mudanças culturais.


Ter atitude e personalidade é aceitar estas diferenças e misturas, reler o passado, combinar materiais e texturas, recriando seu próprio estilo com uma linguagem contemporânea.
Desejamos ser surpreendidos com inovações, sejam estas materiais, tecnológicas ou emocionais, atiçando nossos desejos.


No DESIGN, simplicidade, conforto e praticidade são os anseios mais recorrentes (até porque são bem mais duráveis).
Já a origem da MODA, não é a praticidade. Ela é mística e erótica. Mistério e Sedução são as “palavras-inspiração”.


Para mostrar esta convergência, dividimos em quatro estilos básicos este diálogo entre as modas de vestir e de morar. (Veja também esta correlação na matéria “Tendências – Moda e Interiores” que escrevi para a revista MiniMáximo)


SOFISTICADO





Na moda, o jogo de CLÁSSICO X MODERNO no uso de brocados florais e cetim que acentuam o glamour das roupas, celebrando a elegância e feminilidade. Barroco moderno.


Na Sala de Jantar, mobiliário também com brilho mais acentuado.
As luminárias de formas orgânicas e vazadas são maiores que as dos anos 60, além de utilizadas em dupla (veja outras luminárias da Foscarini na DICA “Op Art now!”).
Da mesma década, but très chiq é o lustre em formato “navete” de Joaquim Tenreiro, com três carreiras assimétricas de pingentes de cristal, inspirado “em todos os Luizes”, segundo ele (quem se interessar por esta faceta quase desconhecida do mestre, leia “Tenreiro dos azulejos e das luminárias” que escrevi para a ESCALA).





Look Vintage nos tecidos com brilho e leveza, valorizando a maciez das sedas, jérseis, crepes georgettes, lamês e lurex em silhuetas lânguidas e sensuais.


Memória dos anos 20 no gaveteiro settimanale e na estante-penteadeira. Sofisticação no uso de materiais nobres como rádica de imbuia, cristais com duplos bizotés e pastilhas de ouro (veja mais detalhes em Casa Cor).





Luxo soft em jacquards metálicos e brocados luminosos, na mesma intensidade das pastilhas de cobre neste lavabo, cuja cuba de cerâmica artesanal “flutua” sobre cristal engastado apenas nas laterais.


INFORMAL





A natureza funcional de namoradeiras e espreguiçadeiras - como a lounge chair do húngaro Marcel Breuer - tem tudo a ver com o aspecto neo natural do casaco de couro e pele, into an upgrade de requinte.





Contraste RÚSTICO X SOFISTICADO no estilo urbano adaptado do campo. O jeans do homem compõe com a elegância clássica da mulher.


Na copa-cozinha, os tijolos originais da casa da década de 20 contrastam com a treliça metálica com flores do campo de forma harmônica. Existe uma busca pela customização também nos ambientes. Reforçando a integração espacial, os misturadores da bancada em granito carijó foram posicionados nas laterais das cubas para que pudessem ser alcançadas pelos dois lados.





Tecidos de diferentes pesos e texturas - veludos e couros, sedas e lãs bouclés - em cores neutras do off-white aos marrons outonais podem ser se inserir no conceito de maneira informal.


Há uma valorização do handcraft e fibras naturais, tanto nas roupas quanto no mobiliário, como nesta cadeira da dinamarquesa Hanne Kjaerholm da década de 60, onde aparece a mistura da fibra com o couro. (Conheçam outra grande dame do design dinamarquês Nanna Ditzel em Nórdicos em alta)
Nos Tallboys também encontramos puxadores e braços dobráveis em couro, além da tonalidade caramelo do louro-faia.


CASUAL





Estilo com ousadia irreverente, podendo se relacionar com aspectos lúdicos. Há alguns anos que as indústrias do design e da moda foram seduzidas pelos relookés, muitas vezes com detalhes elaborados para equilibrar o minimalismo das linhas.


Na roupa da modelo, detalhes dos anos 50 - saia bordada godê no joelho e casaquinho com mangas 3/4.
Já a poltrona também godê foi desenhada por George Nelson em 57 e chama-se "Coconut".





Em 1927, mulheres do Arizona já gostavam do look cowboy. Hoje, este look masculino se confirma na alfaiataria.
Calvin Klein dizia que era uma atitude fashion extremamente sexy uma mulher vestida com a roupa do seu namorado.


Na disputa FEMININO X MASCULINO vencem os dois. No home office projetado para um homem, o uso de tons claros, transparência no vidro curvo do tampo da mesa e grande luminosidade da bay window lhe confere um ar delicado (veja outras fotos deste home-office).





Não são apenas os conjuntos de saia-e-blusa ou terninhos que fazem o sucesso casual. O vestido é a peça-chave, com tecidos que variam da seda chiffon às flanelas, passando por tweeds e lãs luxuosas.


Nos ambientes também são utilizadas as mesmas tonalidades de verdes florestais e azuis marítimos, que nos remetem à natureza. No canto do bar, parede verde-alcaparra com arandela escultural e poltrona em couro ecológico branco, ao lado do bar “Andréa”, uma releitura déco (leia mais sobre este ambiente na matéria intitulada “Para ler, relaxe”).
No banheiro, pintura metálica petróleo com armário em resina translúcida e aramados internos. Os premiados módulos nômades da linha “Aline” também podem percorrer todos os outros cômodos da casa. Híbridos.


SIMPLES CHIC





Roupas de cama com texturas macias e sedosas de Calvin Klein equilibram a arquitetura minimalista de concreto. Soluções inovadoras, como a luz zenital, enriquecem o ambiente com baixo custo, num contraste PESADO X LEVE.


O movimento aparece na roupa inspirada em Issey Miyake, com drapeado glamourizando o look minimal.





Espírito eclético daquele que adora viajar e recebe todos os tipos de influências étnicas e folclóricas. Mistura jaquetas-quimono com estampas do leste europeu em combinações inusitadas mas chiques.


Jardins internos são divididos por uma parede de tijolo de vidro.
No corredor, jardim seco com bambus e pedras de influência oriental. À noite, recebem filtros dourados de dicróicas localizadas no piso e na viga. Na sala, jardim verde (iluminado por clarabóia) e armário-bar suspenso.





Este estilo não é apenas para as mulheres - que adorariam ter um cantinho só seu como neste toucador (veja mais detalhes em uma das vitrines da Acqua que projetei) -, mas também para homens elegantes que ambicionam um visual diferenciado, como nos ternos violáceos de Versace e Prada, tons dos vinhos de Bordeaux.


A Trienale de Milão se rendeu a essa inter-relação entre as diversas áreas e produziu uma feira chamada Sensidivini, combinando design de cálices e degustação. (Se você ainda não percebeu a relação do vinho com a sedução, ou se percebeu, quer aprender um pouco mais, leia os artigos “Cálices da Sedução” e “Degustação às cegas”)


Hoje designers de todas as áreas têm dirigido seu foco continuamente do passado para o presente, depois o futuro e de volta ao passado. Em busca de um conceito, propõem estilos que instiguem, emocionem ou até mesmo choquem o público comprador.


E o público se sente livre para ter diferentes looks, dependendo da ocasião. Na verdade, dependendo do dia, nos identificamos com cada um destes estilos. Vamos então fazer um brinde às nossas diversas imagens pessoais e compartilharmos, é claro, com ELES?


Nota: Este texto foi baseado numa mesa-redonda que participei no Rio Design Center, com Felipe Veloso e Lula Rodrigues, convidada pela jornalista Iesa Rodrigues.
 
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