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Ícones da Arquitetura HOJE |
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Por Ignez Ferraz, Fabio Memoria e Tabitha von Krüger |
ICONS: Contemporary Architecture
A divulgação do vencedor do concurso fechado para a construção da nova sede do MIS (Museu da Imagem e do Som) no Rio de Janeiro, mais uma vez fomentou a discussão quanto ao estilo do projeto. O impacto do edifício na paisagem da praia de Copacabana suscitou polêmica – assim como já havia acontecido com a Cidade da Música (Christian de Portzamparc) na Barra e o projeto cancelado do Guggenheim (Jean Nouvel) para o Píer Mauá.
MIS / Diller Scofidio + Renfro / Rio de Janeiro 2009
A nova-iorquina Diller Scofidio (os fundadores Elizabeth e Ricardo)+ Renfro (Charles, partner a partir de 2004) empregaram no MIS uma linguagem mundialmente consagrada há décadas - a arquitetura contrastante com o entorno. Nota: Este grupo levanta a bandeira da interdisciplinaridade e, além das suas críticas arquitetônicas ficou conhecido principalmente por suas instalações artísticas. A fachada do edifício reflete bem este elo.
Um dos primeiros a adotar a postura dos contrastes foi o arquiteto italiano Renzo Piano, em parceria com o americano Richard Rogers, ao vencerem ainda muito jovens o concurso para o Centre Georges Pompidou (Beaubourg) em Paris nos anos 70. Sua concepção industrial com cores fortes inserido no coração do tradicional bairro Le Marais chocou muita gente.
Porém, a arquitetura monumental é importante para a cidade. Ela cria paradigmas, pontos de referências, marca épocas, vira símbolo, e, principalmente, provoca discussões que ajudam a formar opinião e cultura arquitetônica. Toda metrópole possui pelo menos um ícone contemporâneo - muitas vezes redefinindo seu status, colocando-a no mapa mundial, como foi o caso do Museu Guggenheim em Bilbao do americano Frank Gehry.
Nas obras de grande porte existem algumas linguagens predominantes utilizadas pelos arquitetos:
COMPLEXIDADE
O de(s)construtivismo (estilo adotado no MIS e na cidade da Música do Rio) é uma das referências mais fortes na arquitetura mundial. Os austríacos Coop Himmelblau (“Dachausbau” – Viena), ao lado de Bernard Tschumi (Suiço) e Peter Eisenman (EUA) foram os precursores do movimento na década de setenta. O duo ‘complexidade formal E executiva’ só foi viável com a utilização das tecnologias mais avançadas de programas computacionais.
Além deles e de Gehry, os principais nomes da atualidade são o polonês Daniel Libeskind (Museu Judaico de Berlim) - que também participou do concurso do MIS -, a iraniana Zaha Hadid (Rosenthal Center of Contemporary Art – Cincinnati) e o escritório americano Morphosis.
Cooper Union / Morphosis / Nova York 2008
O projeto do novo campus da Cooper Union do Morphosis é chocante em relação ao entorno – como se esperaria para uma escola de design – mas é contrabalançado pelo envelope metálico semi-transparente da fachada que traz a paisagem para dentro do edifício.
SIMPLICIDADE
Levando ao extremo o conceito de “menos é mais” do alemão Mies Van der Rohe, ícone do modernismo, o minimalismo é uma linguagem baseada na pureza das formas. Os japoneses são mestres nessa arte e possuem nomes relevantes como Tadao Ando (Igreja da Luz – Osaka), Shigeru Ban (Pavilhão Japonês – Expo 2000), Toyo Ito (Tod’s - Tóquio) e o escritório SANAA.
New Museum of Contemporary Art / SANAA / Nova York 2007
O grupo SANAA utilizou o mesmo recurso das grades de alumínio na fachada do New Museum of Contemporary Art, com um conceito oposto. Sua pele evoca uma pilha de caixas desencontradas numa composição misteriosa, que à noite chega a ser etérea. Este revestimento foi escolhido em função da vizinhança - lojas de supplies para restaurantes – proporcionando um efeito sólido e industrial.
Mas o minimalismo já se propagou pelo mundo e muitos arquitetos ocidentais são defensores deste conceito. Destaque para os Países Baixos, Nórdicos, Ibéricos e Sul-americanos.
SIMPLICIDADE + COMPLEXIDADE
Existe ainda uma linha intermediária, que vem ganhando força. Formas de fácil compreensão, porém com uma complexidade tecnológica e construtiva de última geração. Exemplos não nos faltam desde as olimpíadas de Pequim. O “Cubo d’Água”, como ficou conhecido o estádio aquático de natação (escritório australiano PTW), ou os suíços Herzog & De Meuron (Estádio Olímpico “Ninho de Pássaro” em Beijing, Estádio da Copa da Alemanha “Alianz Arena” em Munique). Os projetos do inglês Sir Norman Foster (Swiss Re Tower – Londres) são caracterizados como High Techs, mas suas formas são altamente legíveis.
Talvez o mais vanguardista deste pensamento seja o holandês Rem Koolhaas. Conhecido também como grande teórico, Koolhaas consegue antes de tudo ser polêmico.
CCTV / Rem Koolhaas / Pequim 2008
O projeto do OMA (escritório liderado por Rem Koolhaas) para nova Sede da CCTV foi uma das primeiras torres a ser construída no novo Centro de Negócios (CBD) de Beijing. Apesar da altura (230m), não é um arranha-céu tradicional - seu desenho contínuo cria uma espacialidade tridimensional, mais do que uma afirmação de verticalidade. A amarração por um grid irregular representa os esforços distribuídos pela estrutura.
Contextualismo + Sustentabilidade
Apesar de tantas linguagens possíveis, duas tendências são comuns a todas:
O grande paradigma da arquitetura hoje é Sustentabilidade. Este ideal tornou-se um pré-requisito para qualquer grande obra. Seja na execução, na economia de recursos dos equipamentos, no uso da edificação, ou mesmo no destino final de suas partes após a destruição. A preocupação com a diminuição do impacto da construção civil sobre o planeta é a principal meta estabelecida para o futuro desde a ECO 92.
Se analisarmos atentamente todos estes projetos, iremos reparar que buscam inspiração, fazem referência ao contexto, à cultura do país, aos materiais típicos da região ou pelo menos a um elemento marcante do local onde está inserida a edificação. É o que chamamos de Contextualismo.
No projeto do MIS por exemplo, os arquitetos defenderam que a forma do museu foi concebida dando continuidade ao calçadão da praia de Copacabana - abstratamente, claro. Na Cidade da Música foi utilizado concreto (típico material da arquitetura brasileira) como padrão, além do edifício ser elevado em relação ao piso e mesclar curvas e retas, numa clara citação às características de nossa linguagem modernista.
Esta busca por um “gancho” virou rotina, tornando-se um artifício comum da globalização - justifica o projeto e contribui para uma leitura artística do espaço. Nos exemplos citados, quase sempre o arquiteto é de um país e a obra de outro. Este intercâmbio proveniente dos meios de comunicação e dos concursos internacionais é essencial para o progresso arquitetônico.
Entre tantos criadores renomados existe um que consegue conjugar estes dois principais conceitos como ninguém. É um mestre no tema da sustentabilidade e é tão contextualista que não somos capazes de identificar facilmente sua obra tão diversificada. Renzo Piano, já citado pelo projeto do Beaubourg, é um verdadeiro camaleão.
Centro Cultural Jean-Marie Tjibaou / Renzo Piano / Nova Caledônia 1998.
No projeto de Renzo Piano para o Centro Cultural Jean-Marie Tjibaou na Nova Caledônia, destacam-se a sensibilidade ao ambiente natural, a capacidade de diálogo social e o respeito intelectual, que se propõem a compreender esta cultura, tão diversa da européia. Uma reflexão sobre a técnica construtiva e cultura material da habitação Kanak conduziu o mestre a uma morfologia que nos remete às cabanas locais de madeira ripada, aliada ao respeito pela extensa vegetação e superfície líquida do Oceano Pacífico. Claramente o oposto do seu projeto no Marais.
“A verdadeira universalidade na Arquitetura se realiza através do legado das raízes, a gratidão pelo passado e o respeito pela genealogia”, conclamou Renzo em 2005. |
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