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No compasso da Feira de Milão
Por Ignez Ferraz
Durante o período da EUROMOBILE, anualmente em abril, Milão respira Design por todos os cantos. As vitrines de showrooms nas ruas, mesmo quando participantes da Feira, são imbatíveis, como a CASSINA, com cadeiras do Le Corbusier girando.


CASSINA da Via Durini – vitrine mais instigante – projeto Studio Calvi & Brambilla (Foto Press)

Na mesma Via Durini, encontramos a ARTEMIDE, participante da Euroluce, onde nos encantamos com um pequeno robô que posicionava lâmpadas de leds suavemente num painel.

Enquanto estava na cidade, como jornalista convidada da Revista ESCALA (obrigada Andréa Magalhães!), dei uma entrevista para O Globo (grata, Natália Zucolotto!), no caderno Morar Bem.

1 - O que mais te chamou atenção na Feira de Milão?

Os pavilhões mais criativos não eram, necessariamente, os das grandes marcas italianas já consagradas. Propostas interessantes chegavam dos países nórdicos ou ainda Holanda e Bélgica.

Como sempre, alguns designers são onipresentes – Philippe Starck, Patricia Urquiola, Irmãos Bouroullec, Konstantin Grcic – projetando para várias indústrias em diferentes materiais e resultados desiguais.

Outra importante observação é que no Fuorisalone encontramos também marcas importantes como a B&B, que há 12 anos não participas da Feira.

Lançamento cadeiras “Husk” de Patricia Urquiola para a B&B.


Mas o designer que mais me emocionou foi o japonês Nendo, vencedor do prêmio “Designer of the year” da Maison & Objet 2015. Seu olhar sob um prisma desestruturado, com materiais claros e leves quebram paradigmas.

2 - Quais as principais tendências nessa edição?

Com essas observações, podemos dizer que os MOVIMENTOS são tendências – mesas que se esticam, estantes pivotantes, luminárias giratórias.


Mesas extensíveis ”be –easy” da Bluezone

As luminárias na maioria das vezes formam um conjunto da mesma família, apenas com tamanhos e alturas de pendência diferentes.

Luminárias “Spokes” by Garcia Cuminis para FOSCARINI


As MESAS DE CENTRO foram substituídas por pequeninas mesas laterais agrupadas – de alturas, materiais e formatos diferenciados.


Conjunto de mesinhas laterais quadradas e retangulares, utilizadas no centro do ambiente, em degradés de cinza da MDF Italia. A composição varia, ora aproximando-se dos sofás.

Mas na maioria das vezes elas são redondinhas, lembrando as Saarinen branquinhas. Com exceção das mesas de jantar, sempre retangulares, estreitas e longas, ou das estantes vazadas e leves, o arredondado se fez presente, distanciando-se do conceito lapidado anterior.

Os anos 50 estão na ordem do dia com releituras, principalmente de Charles e Ray Eames. Sua CADEIRA “Rocking Chair” de BALANÇO, redesenhada toda em plástico pelo Studio Barber Osgerby (lançada em Milão 2011), é uma febre bastante simpática.


A firma dinamarquesa NORMANN lançou cadeiras de balanço – tudo em tons Marsala, eleita a cor de 2015 pela Pantone.

Chapas perfuradas – metálicas ou plásticas - são superfícies constantes em todos os tipos de assento.



3 - São muitas novidades que as grandes marcas apresentam para o mercado mundial. De tudo o que tem visto e vivido na Feira, o que você acha que mais ‘colar’ aqui no Brasil?

Em primeiro lugar as CORES quentes – o brasileiro gosta de ambientes alegres. O amarelo imperou – do canário ao mostarda – sempre conjugado aos tons de cinza ou à dupla imbatível P&B.


A MDF Italia foi quem melhor compôs os grafites e mostardas

As cores pasteis reapareceram, com destaque para os rosados, principalmente entre os nórdicos.



Os vidros também são coloridos – Patricia Urquiola usou os tons mansos, enquanto Starck os fortes.

As TRAMAS marcam presença de várias maneiras, cinzas e espessas (mas quase nunca em materiais naturais) envolvendo estofados e mesas de centro. Aqui seriam usadas as fibras naturais, com uma preocupação de sustentabilidade já existente.


Lançamento B&B – “Butterfly” de Patricia Urquiola. O mármore retorna.

4 - O mundo está passando por uma dificuldade econômica. Isso influenciou nos produtos apresentados na feira?

Sim, pois podemos notar que os sofás e poltronas diminuíram de profundidade ou são modulares. Existe uma preocupação com o multifuncional e BANCOS (com ou sem encosto, nas mesas de jantar) e PUFES (substituindo poltronas) estão na ordem do dia – são mais baratos e ocupam menos espaço.




Novos usos para o mobiliário, como a mesinha regulável para uma altura de coffee (or tea) table, muito comum no séc.XVIII. Amo essa solução!



Tudo é leve e slim – tampos extremamente finos, estruturas em aço (pintadas de cinza, preto ou cor de bronze) envolvem estofados e pés de mesinhas.



Com isso tudo, enxergamos uma simplicidade no essencial muito bem -vinda.

5 – Você já participou da Feira de Milão mais vezes? E como você vê a importância dos profissionais da arquitetura e design participarem de um evento dessa grandeza?

Essa é a quarta vez que venho - as duas primeiras como arquiteta, e as últimas como jornalista.


Walter e eu de/no olho deste furacão de ideias!

É interessante ver o que os designers andam criando e as indústrias realizando, pois caminham de mãos dadas. Conseguimos enxergar com clareza onde nós, brasileiros, nos situamos neste turbilhão de ideias.

Além disso, o próprio pavilhão, com sua estrutura vulcânica by Fuksas já vale uma visita. E as lojas chiques, situadas principalmente entre a Via Montenapoleone e a Via della Spiga são aulas de vitrines instigantes.


 
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