Sewing the Art - between Goldfarb and Hilal
“Não precisei sair da minha poética. Lido com o papel derivado de trapos de algodão. O papel vem da roupa. Meu trabalho tem a memória do corpo. Esta herança é muito forte na minha produção e tem a ver com a questão da moda.”
Instalação no Museu Ferroviário, ES
Esta foi a resposta de HILAL SAMI HILAL (descendente de família síria, nasceu em 1952 em Vitória – veja dicas quentes sobre esta cidade em “Vitória luxuosa”), quando questionado sobre o cenário que preparou para o desfile da AcquaStudio no Fashion Rio – MAM (veja também “Rietveld, Mondrian e Saint Laurent”, sobre a exposição neste Museu).
Hilal trabalha basicamente com a fibra de algodão, vinda dos trapos. Ele derrama a massa, obtida com a mistura de água, sobre a superfície lisa. Retirada como pele, a matéria se estrutura em uma trama de fibras. O resultado: tapetes voadores bordados?
Trapo de algodão com pós de alumínio e ferro (3mx2m) e detalhe
Referências recorrentes em seus trabalhos (desde 1986) são as trocas entre contrastes – oriente x ocidente, passado x presente, corpo x alma, o visível x o invisível. Suas quase transparências – no limite de uma sombra – dançam uma espécie de balé imaginário. Rendas, então?
O recurso que ele utiliza de expô-las distanciadas da parede, facilita a sensação de profundidade, e – por que não – da própria fragilidade das obras.
Efeito de iluminação e sombra produzido pelos spots, que podem lhe proporcionar diferentes leituras.
Em resumo, Hilal apresenta uma linguagem refinada, baseada no silêncio e na contemplação.
São estas mesmas qualidades que encontramos no trabalho do arquiteto WALTER GOLDFARB, outro “bordador”, carioca, nascido em 1964. Mas, ao contrário de Hilal, sua obra não tem referências nos contrastes, mas nas citações de obras clássicas, com um resultado surpreendente.
Quando se questiona uma pintura, questionamos seus autores. E Goldfarb os tem questionado sob diversos pontos de vista.
Nesta obra acima, por exemplo, “Lição de corte e costura I”, releitura dos holandeses barrocos, ele borda “The lacemaker” de Vermeer (1632-1675), inserida no mais que famoso quadro de Rembrandt (1606-1669), “Lição de Anatomia”, pintado em carvão e têmpera sobre lona crua.
Já em “Orla Carioca”, além dos bordados, do carvão e da têmpera, Golfarb aplica pigmentos de ouro e prata.
Inspirado no austríaco Klimt (1862-19180), pude observar que o artista mixou outras duas referências: “Moving water”, para o movimento ondulante dos corpos, e “Beethoven frieze”, no desenho das imagens femininas.
Tanto Hilal quanto Walter bordam obras vivas de grandes formatos, onde convivem memória, suspiro e intenção.
Os ateliês dos artistas Hilal e Goldfarb.
Nota: Adquiri para um cliente um dos trabalhos do Hilal com a simpática Heloisa Amaral Peixoto, na sua charmosa casa-galeria H.A.P no Jardim Botânico.
Já Goldfarb, conheci pessoalmente no seu ateliê na Glória. Daquelas casinhas que você não dá nada ao ver a fachada, e ao entrar fica surpreso com os espaços – em vários níveis – generosos e interligados. O próprio Walter – com sua estampa de alemão – fez questão de explicar cada etapa do seu trabalho, que pode consumir meses para concluir uma única tela. Consegui seu contato através do meu querido amigo Roberto Padilla, que conhece simplesmente “todos” desta área. Também pudera, é ele o responsável por grandes exposições e eventos da cidade. Quando sou convidada para participar de algum deles, eu topo na hora – podes crer que é “papa fina”!
P.S. O ilustre Walter Goldfarb nos enviou fotos das suas últimas obras, antes de embarcarem para o Museum of Latin American Art, em Long Beach. Aproveitem para vê-las in advance.
E-mails simpáticos da Heloisa e do Walter:
Oi Ignez,
Ficou ótima a sua página na internet. Agradeço a menção ao meu nome e a referência ao trabalho do Hilal, inclusive estou com duas novas Tramas lindas, que acabei de montar para a exposição do acervo. Estou mandando em anexo para você. Bjs, Heloisa.
Oi Ignez,
Super bacana o site e valeram os comentários sobre a visita. Aliás fico te aguardando para outra. Basta ligar. Beijo Walter
E depois de ter lido o artigo “Rosas, rosas, rosas...”
O site está cada dia melhor e gosto muito da forma como os temas são abordados. Aproveitando as rosas, quando você estiver com um tempinho ou passando por aqui... pare e toque a campainha. Estou produzindo uma série chamada Rosas Lisérgicas. As cores são produzidas no ateliê e os fios com os quais bordo são tingidos aqui. A idéia das cores lisérgicas é a mudança da tonalidade de acordo com a luminosidade...
O fato é que o site é excelente. Os artigos são de primeira e como já lhe escrevi gosto da maneira como vc. conduz sua opinião. Brincadeira que você gosta e sabe fazer. Por isso deu certo. As rosas te esperam. Bj W.G. |