Juscelino and the fifties interiors
Juscelino Kubistcheck de Oliveira (ou simplesmente JK) ressuscitou no nosso imaginário através de filmes como “Vinícius”, ou a bem cuidada minissérie da Globo “JK”.
O presidente “bossa nova” é sempre lembrado por suas ousadas empreitadas e pela exportação do desempenho criativo neste período nas áreas de arquitetura, literatura, artes e música. É tudo verdade. Porém, cabe lembrar que todas estas ideias não aparecem da noite para o dia. São necessários anos (ou décadas) de sedimentação para que, em determinado momento mágico, eclodam em conjunto.(Leiam sobre estes primórdios essenciais)
Juscelino Kubitschek toma posse em 1956, após o suicídio de Vargas, cinco anos depois do seu retorno ao poder, quando chegou renovando a administração lerda de Dutra.
PRESIDÊNCIA
Nos interiores predomina o mobiliário "pé-de-palito", a forma curvilínea e a policromia.
Sala com sofá curvilíneo rosa “nublado”; “coffee table” com detalhes corriqueiros da década, como o tampo “bumerangue” e os pés tubulares pretos, que se repetem na mais-que-copiada cadeira “Borboleta” (atipicamente revestida de pêlo de vaca). Piso em tábuas corridas claras bem finas, tão em voga novamente.
Obs. Tenreiro, que projetava todos os interiores das casas da nossa família (veja matéria que escrevi sobre este meu mestre na Revista Escala/2002) adorava as réguas finas e as colocou na nossa Sala de jantar. No Estar, porém, propôs grandes placas de mármore de carrara, embora fossem ambientes contíguos.
Bares foram peças típicas da década de 50, às vezes até com iluminação interna. Seu tampo, também em forma de bumerangue, apresenta mosaicos coloridos na superfície.
Esta Sala de jantar chama atenção principalmente, pelo moderníssimo aparador-bufê, que naquela época já era reedição do projeto de Marcel Breuer de 1930. Gostaram? Ainda está em produção!
-Cadeira de leitura reclinável de Robin Day, estante-armário com variadas cores e texturas, além de luminária de pé ajustável, um charme até hoje.
- “Coffee table” com banqueta “pés-de-palito” à frente do papel de parede com motivos geométricos e assimétricos, em turquesa e preto. Além destes, a paleta dos “fifties” incluíam o verde floresta e, principalmente o rosa salmão.
-Carrinho de chá com características marcantes do período: silhueta de asa de avião e pés torneados com espessuras descontínuas.
Obs: Este eu quero para mim. Adoro carrinhos de chá, embora não goste nada, nada de chá.
No escritório, o couro surge tanto na forração das paredes (parece-lhe familiar atualmente?) quanto na parte esquerda do tampo dobrável, escondendo a máquina de escrever. À direita, gavetão moderníssimo em chapa perfurada (e eu, crente que estava abafando com minhas prateleiras em aço perfurado, no projeto do Studio de adolescentes para a Casa Cor 98), abriga as pastas suspensas. Acima da mesa, preso por finas hastes, pequeno gabinete com portas de correr esconde o material de escritório. Luminárias de pé e relógios dos mais criativos formatos, também foram bastante utilizados no período, assim como os tapetes sempre com desenhos de abstração geométrica. Cadeira de Arne Jacobsen, muito utilizada até hoje.
-Quarto com cama leve e retilínea (as cabeceiras naquela época tinham essa altura mediana, que, aliás, eu amo!), cortina curta (outra coisa que gosto – não tampar a parede, somente o vão da janela), estampada com motivos abstratos, luminária com cúpula para a leitura. Reparem o charme do revisteiro pendurado na mesinha de cabeceira, com tampo em forma de ameba.
Obs. Naquela época, as pessoas adormeciam com a leitura, a única TV só era permitida na área social da casa (Curiosos? Vejam no artigo Ao Mestre Tenreiro, com carinho). Lembro-me de toda minha família assistindo “O sheik de Agadir” (Vocês se lembram quem era “o Rato”? Marieta Severo! Mas é claro, que quem estiver lendo este artigo via internet, jamais ouviu falar no “Rato”. Mas da grande Marieta, já, né não? Aquela da mais que bacana “Grande Família” e ex do Chico - ah, agora sabem, hein!).
-Clássicos do período, era o uso do preto misturado ao rosa como neste banheiro.
Obs. Quando ainda era adolescente, nossos banheiros (uma suíte para meus pais, o outro banheiro para os sete filhos – e depois esta geração ainda reclama!) e a cozinha, possuíam os mesmos acabamentos – granito preto nas bancadas, azulejos nas paredes. O que variavam eram as cores destes azulejos – rosa para os “papais”, verde para los hijos e azul na cozinha. Todas as paredes dos outros cômodos também acompanhavam estas tonalidades.
Nas artes, o concretismo ganha força junto ao público, mas divisões entre paulistas e cariocas fazem surgir no final da década os neoconcretistas, representados por Lygia Clark, Lygia Pape, Amilcar de Castro e Franz Weissman. Assim como Bruno Giorgi, Weissman, de origem austríaca (veio para o Brasil em 1924 e formou com Guignard, na década de 40, a Escola de Arte Moderna de Belo Horizonte), cooperou com o governo de Juscelino, dando novamente à escultura seu caráter monumental e público, à frente dos prédios administrativos da nova capital – BRASÍLIA.
“Monumento à democracia” – 1958. Escultura em aço pintado, com 3,35 m de diâmetro, para o Museu de Arte de Brasília.
P.S. Se você pensa que jamais vai poder adquirir uma obra deste genial escultor, lembro que ele executa pequenos múltiplos coloridos. Tenho um, “Fita”, datado de 1981.
Olhem só minha “tetéia”!
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Ignez Querida,
Percorrendo seu site descobri a sua matéria, ANOS JK. Um banho de cultura cronológica para fazer-nos entender tudo o que se sedimentou para eclodir no momento certo. Não basta ter cultura, mas essa capacidade de sínteses que você possui Ignez, sem perder um grama do contexto são simplesmente extraordinárias. E como sempre perfeitamente ilustradas. Parabéns pela bela matéria! beijos IBEN |