Fachada posterior do Banco D.G. – Frank O. Gehry.
Depois da queda do muro em 1989, a capital alemã oriental, ainda destruída após a segunda guerra mundial, apresentou um grande desenvolvimento com a unificação. A cidade foi refeita, preservando os elementos originais, reconstruindo o possível e construindo o impossível.
Para conceber a arquitetura de uma cidade em ruínas e de tal importância para a história do mundo, projetos excepcionais ganharam volumetria e espaço, através de concursos públicos. Berlim tornou-se então uma das cidades mais sofisticadas do mundo, símbolo da arquitetura contemporânea - com competência administrativa e a criatividade de centenas de arquitetos de vários países, que conseguiram criar, apesar de suas diferenças, um conjunto de edificações coerentes.
Para conseguir tal unidade, partiu-se do princípio que deveriam preservar o existente. A maior parte dos projetistas idealizou o mesmo tipo de intervenção - fachadas, ou apenas partes de construções, protegidas por uma pele de vidro, sem mecanismo de abertura, dando a sensação de PRESERVAÇÃO, mas ao mesmo tempo de MEDO. Medo talvez daquele passado, ou talvez do novo mundo que está por vir.
Fachada de edifício residencial da cidade protegido pelo vidro sem mecanismo de abertura.
Esta é a verdadeira cara de Berlim hoje: um MURO transparente que separa o passado pesado do futuro incerto. A cidade possui infinitos "edifícios-janelas". O vidro é um material de sensação fria, assim como o povo alemão é conhecido. Belo e competente, mas que a um toque mais firme se estilhaça. Este é o clima estabelecido.
Fachada dos fundos da embaixada da França – Christian de Portzamparc.
Tal fragilidade e frieza são amenizadas pelos outros materiais utilizados - cerâmica, tijolos, concreto, madeira, granito e até mesmo resina, esquentam os ambientes, num belíssimo contraste.
Cerâmica utilizada para equilibrar o excesso de vidro nos edifícios da Potsdamer Plaz – Renzo Piano.
Nota arquitetônica: Apesar da grande repetição dos materiais, creio que não são apenas estes que fazem de Berlim uma cidade com uma linguagem arquitetônica coerente. Acredito que os arquitetos possuam um sistema projetual similar. Para estes, é claramente importante a influência do contexto no caráter de sua edificação. Contexto inclui localização, história, entorno, programa e escala – e o respeito a eles. Portanto, um projeto de arquitetura, aqui, não se resume apenas a uma planta e uma fachada com uma plasticidade ousada. Cabe ao arquiteto conceber uma edificação ideal para aquela função e naquele local. Sendo esta uma forma rebuscada ou contida, terá a escala que a função exige, a funcionalidade interna e urbana ideais, o caráter pedido, e as fachadas de acordo com seus espaços adjacentes.
Começando com os modernos Alvar Aalto, Niemeyer e cia, Berlim abriu definitivamente as portas para arquitetos estrangeiros consagrados como Zaha Hadid, Frank O. Gehry, Aldo Rossi, Philip Johnson, Norman Foster, Christian de Portzamparc, Renzo Piano, Dominique Perrault, Jean Nouvel e vários outros. A eles associaram-se os alemães: Joppien Dietz Architekten, Reitermann & Sassenroth, Quick & Backman e muito mais. É inacreditável a quantidade de projetos de primeira qualidade.
Quarteirão projetado por Aldo Rossi – localização do Hotel onde fiquei hospedado.
Três conjuntos de edificações já valem a visita: Pariser Platz, Potsdamer Platz e Reichstag Building e adjacências. Arquiteturas sofisticadas, bastante atuais, combinam antigo, releituras e novidades.
Pariser Platz é o principal cartão postal da cidade. O pórtico-símbolo da cidade abriga prédios de embaixadas e do parlamento. Edifícios de grande porte, porém não monumentais, compõem a praça com algumas fachadas simples, mas charmosas, e outras mais trabalhadas e bem compostas. Destaque para Christian de Portzamparc (Embaixada da França) e Frank O. Gehry (Banco D.G.)
Fachada Principal da embaixada da França – Christian de Portzamparc.
Fachada principal do Banco D.G. – Frank O. Gehry.
Observação: Reparem que este é o mesmo Banco da foto inicial, com uma linguagem totalmente diferenciada. Seguindo os preceitos impostos para Pariser Platz, o arquiteto – que normalmente trabalha com formas amorfas e arrojadas – respeitou sua localização e história, mantendo grandes colunatas clássicas moduladas como o vizinho Portão de Brandenburg, símbolo de Berlim.
Na Potsdamer Platz, local onde se situa o Sony Center, localizam-se os grandes edifícios comerciais e Shoppings Centers. Praticamente todos projetados por Renzo Piano, que com alta tecnologia e formas arrojadas criou um grande pórtico entre as torres principais.
Debis Headquarters, conjunto da Potsdamer Plaz – Renzo Piano.
No Reichstag Building - edifício do parlamento alemão - a atração é a enorme cúpula transparente de Norman Foster (vejam também a cúpula do British Museum e outros projetos de Foster em LONDRES ), de onde se pode observar toda a cidade.
Imagem do Reichstag destruído no pós guerra.
O novo Reichstag.
Interior do novo Reichstag.
Do seu lado direito, edifícios do governo formam dois quarteirões integrados. Destaque para Busmann & Haberer, Von Gerkan, Marg & Partner e Cie de Amsterdam, com seus edifícios corretos e detalhistas. Do lado esquerdo, três imponentes e monumentais palácios governamentais, que em determinados momentos lembram a arquitetura da capital brasileira.
Além destes três pólos, outros edifícios valem uma visita, apesar das grandes distâncias: a Embaixada Nórdica (Alfred Berger & Tiina Parkki), a Capela da Reconciliação – (Reitermann & Sassenroth) e o Museu Judaico ( Daniel Libeskind ) –, o projeto mais impressionante da cidade. Valeu um texto à parte: Fortaleza das Sensações .
Brises metálicos móveis para controle da luz revestem e movimentam a fachada da Embaixada da Noruega - Alfred Berger & Tiina Parkki.
Sutileza na utilização das ripas de madeira criando um corredor interno com iluminação natural. Capela da Reconciliação - Reitermann & Sassenroth.
A imponência de uma fortaleza – Daniel Libeskind.
Fabio Memoria é estudante de Arquitetura da UFRJ e visitou Berlim quando estudou durante um ano na Faculdade do Porto (para conhecê-la leia "Arquitetura Portuguesa: uma escola" ), com bolsa fornecida através de concurso.
Obs: Este artigo fez tanto sucesso no site que as revistas ESCALA e VIDRO & CIA pediram para publicá-lo em suas páginas. Vejam abaixo:
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