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Rodin, Klimt, Pessoa - beija-nos! |
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Por Ignez ferraz |
Baisons-nous , artistes de mon coeur!
Qual o elo entre Fernando Pessoa e o vinho? A EXPAND, que oferece encontros de harmonização entre sensações poéticas e aromáticas. Antes de você participar, que tal entender um pouco mais sobre a(s) personalidade(s) deste misterioso português?
Óleo sobre tela de Almada Negreiros (1893-1970) um dos principais retratistas de Fernando Pessoa
Poeta das dúvidas e inquietações do ser humano frente a seu enigmático destino, Fernando Pessoa desdobrou-se em heterônimos para escrever sobre o drama das almas. De todos, o que mais me atrai e fascina pela simplicidade complexa de seus poemas e odes lírico-dramáticas é Álvaro de Campos, que tantas vezes nos falou sobre seus sonhos:
“Tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Porque eu amo infinitamente o finito, Porque desejo impossivelmente o possível, Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, Ou até se não puder ser.
Pode ser que para outro mundo eu possa levar o que sonhei, Mas poderia eu levar para outro mundo o que esqueci de sonhar?”
E o que de melhor para sonhar senão um beijo?
Artistas de todas as épocas abordaram este tema universal, tão antigo e sempre tão novo (não estou me referindo ao beijo virtual, mas apenas ao real, que é muuuito melhor). Refletindo sobre meus beijos preferidos na História das Artes, facilmente cheguei a um consenso de duas obras, que tive oportunidade de conhecer pessoalmente:
Na pintura, “O Beijo”, do austríaco Gustav Klimt (veja algumas de suas obras no artigo “Bordando a Arte”), de 1908, que se encontra no Belvedere, em Viena. A mutualidade do desejo é soberbamente interpretada nas formas orgânicas das figuras envoltas no espaço dourado.
Com “O Beijo”, a obra de Klimt passa a se entrelaçar com as formas robustas do artista Auguste Rodin, autor da minha óbvia segunda escolha – sua mais-que-reproduzida escultura, também intitulada “O Beijo”, de 1887, instalada em Paris, no Musée Rodin.
“O Beijo” de Rodin inspirou poetas e admiradores desconhecidos:
“Ah! Baisons-nous! Ton geste amoureux est si beau! Tes attitudes sont si belles! (Il ne faut pas aller vers elle Si vous ne devez pas la revoir)”
Bem, voltemos ao nosso foco – Fernando Pessoa, ou melhor, Álvaro de Campos, para transcrever alguns enxertos de uma de suas odes, que, a meu ver, é a mais singela sobre o tema:
“Vem, Noite antiqüíssima e idêntica, Noite Rainha nascida destronada, Dos sonhos impossíveis que procuramos em vão.
Vem, levemente, Vem, vagamente, E deixa apenas uma luz e outra luz e mais outra.
Vem, e embala-nos, Vem e afaga-nos, Beija-nos silenciosamente na fronte, Tão levemente na fronte que não saibamos que nos beijam Senão por uma diferença na alma, E um vago soluço partindo melodiosamente Do antiqüíssimo de nós.
Vem soleníssima, Soleníssima e cheia De uma oculta vontade de soluçar, Talvez porque a alma é grande e a vida pequena, E todos os gestos não saem do nosso corpo E só alcançamos onde o nosso braço chega, E só vemos até onde chega nosso olhar.
Vem, lá do fundo, Do horizonte lívido, Vem e arranca-me Do solo onde vicejo E desfolha-me para teu agrado, Para teu agrado silencioso.
Com as estrelas luzindo nas tuas mãos Vem, cuidadosa Vem, Noite silenciosa Vem envolver O meu coração.”
P.S. O Dia do beijo é comemorado no dia 13 de abril. Homenageio Rubens Gerchman, o grande pintor sobre o tema, que nos deixou no início de 2008, tornando o mundo menos romântico.
Catalisador das emoções, o beijo é teste definitivo para vislumbrar um futuro (ou não) de uma relação. E é ele que fornece o tal “brilho no olhar” dos seres apaixonados. Ou seja: mais importante, impossível! |
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