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ENTREVISTA - A natureza em Manfredo Souzanetto
Por Ignez Ferraz
“No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra


Nunca me esquecerei deste acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra”


Drummond, “No meio do caminho”
do livro “Alguma Poesia”(1930)







E se fossem várias pedras? E se essas pedras fossem esculturas pictóricas? Ou seria uma instalação? Não importa: a Arte Contemporânea não comporta mais esta divisão de suportes.
É Arte híbrida, projetada por um outro mineiro, artista que sempre questionou os limites da tela, das paredes, do espaço : ou seja, com alma de arquiteto – Manfredo de Souzanetto. (Ih, até rimou!)


- Sua inspiração maior?
- Sempre a natureza.




Preciso dizer o que o inspira?



Troncos de árvores naturais...



...permutam-se em “troncos de árvores” esculpidos, conjunto de sua preferência.


- Uma palavra que resuma seu trabalho?
- Orgânico.



Manfredo confidenciou que as pessoas visualizam animais ao olhar esta obra, mas, para ele, é apenas uma forma orgânica, onde mescla cobre, madeira e chifre.


- E o que mais?
- Limo, ferrugem, galhos, manchas nas paredes, marcas do tempo.



O tempo também é seu aliado numa trajetória coerente.
Lembro-me da primeira vez que tive contato com seus trabalhos na década de 80. Mais do que a presença de pigmentos naturais no lugar da tinta, chamou-me atenção o deslimite das telas: formas geométricas agrupavam-se em colorações terrosas, onde o tradicional retângulo jamais se fechava.
O artista contou que essa idéia surgiu como conseqüência do espaço exíguo do seu apartamento em Paris, onde morou de 74 a 79. (Reparem a Arquitetura influenciando sua obra novamente) Como não comportava grandes formatos, fragmentou o espaço da tela em pequenos triângulos, que ele mesmo executava pois não existiam prontos.


Aos poucos, foi excluindo a lona, permanecendo apenas a estrutura das telas, transmutada na LINHA condutora das suas criações. Os ângulos agudos foram se curvando, perdendo as arestas, tornando-se mais orgânicos. Como num amadurecimento natural de adaptação à vida.
Para arqueá-las, faz incisões na madeira, deixando-as aparentes e incorporadas à obra. Forma-se um grafismo delicado que à primeira vista parece ser apenas esteticamente intencional.





Mais alguns anos e essa estrutura foi se descolando da parede ...





...até se liberar completamente.



No mesmo ambiente, três fases de Souzanetto: o suporte de formato irregular, mas ainda preso à parede; ao fundo , os arcos se “soltando”, e em primeiro plano peça “flutuante” no espaço


Neste ponto sua obra me remete a dois outros excelentes artistas, cujos projetos também apresentam pensamento arquitetural, e, por coincidência, portugueses: o arquiteto Ascânio MMM e seu ídolo, o designer Joaquim Tenreiro (leiam mais sobre este artista nos artigos ANOS JK e Ao Mestre Tenreiro, com carinho ou na matéria para a Escala – “Tenreiro dos azulejos e das luminárias”).


Na contramão de Souzanetto, Ascânio, na década de 70, obteve fama com suas imensas e belas esculturas hiperbólicas em ripas brancas de alumínio ou em madeira natural (como a série “Formação” da foto), para logo depois recolocá-las parcialmente nas paredes, menores.








Esta série “Fita”, em madeira – temos uma em nossa casa de Búzios- exprime bem o que Tenreiro chamava de esculpinturas na década de 70. Trabalhou paralelamente suas “fitas” em colunas esculturais, tanto em madeira como em ferro (também possuo uma neste material).



Se os trabalhos de Tenreiro eram chamados de esculpinturas, por
que não batizar os do Manfredo de ARQUIPINTURAS - além de arqueadas, o artista estudou três anos de Arquitetura. E é como arquiteto que essas obras são precedidas de meticulosos estudos, nos quais todos os detalhes estão previstos, permitindo uma antevisão do seu trabalho.
Foi como arquiteto também que concebeu a distribuição das 20 novas peças (além das mais antigas), executadas durante dois anos, especialmente para o local da exposição (o termo hoje é site-specific):
o chiquérrimo Instituto Moreira Salles (leiam também “Marc Ferrez” e "Santiago & Coppola" – alô de novo, Beth Pessoa!).
Na nossa entrevista, enfatizou sua preocupação na escolha da tonalidade das madeiras para incorporá-las ao piso de tábuas corridas existentes.



Escultura predileta de Souzanetto. Reparem a tonalidade da madeira empregada em consonância com a do piso existente.


E sobre os novos materiais utilizados nestas composições?
Na espessura de suas LINHAS, colou plásticos coloridos que emanam uma áurea, produzindo um efeito óptico; amarrou cordas pintadas em alguns trechos – como a amarela e a vermelha nos exemplos acima; mas utilizou principalmente a chapa de cobre – sua atual paixão – que acredita ser o material de maior simbiose com a madeira, inclusive se fundindo no mesmo tom. O cobre também tem uma função estrutural, cooperando na armação das curvas.





- E os cacos de vidro, perguntei curiosa e fascinada pelo seu efeito, que, de longe, parecem apenas celofane amassado.
- Estes são para contrabalançar a suavidade da proposta. Um pouco de agressividade, como a encontrada na vida.





Nota: Não percam sua nova exposição no Espaço Cultural Correios.
Em maio, lança um livro sobre sua obra. “Poderoso”, não?




Na badalada exposição dos Correios, Jean Paul Lefrève, Manfredo, eu, Marcia Jardim (minha homenageada no artigo “Pedra, Bambu, Água”) e o curador Roberto Padilla ( também curador do evento “É Carnaval”).




Ih, gente, olhem só minhas mesas Luiza visitando a exposição!


P.S. E-mail do Manfredo...


Oi Ignez,
Adorei o site e a reportagem que você fez. Tudo ficou muito bonito. Muito obrigado.
Abraços.
Manfredo



...e da Beth, diretora cultural do I.M.S:


Ignez e Manfredo,


Cheguei de viagem nesta madrugada, fiquei 10 dias fora, mas acabo de entrar no site e adorei a entrevista e as fotos.
Não consegui chegar a tempo da vernissage ontem mas soube que foi um sucesso, irei lá conferir a exposição neste final de semana.


Beijinhos,
Beth
 
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